"Querida, você tem um coração na garganta"
Minha avó

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Um minuto ou dois de silêncio...

...,em meio à bagunça do entrehoras, para a leitura deliciosa de dois poemas de Lúcia Bettencourt. Por este blog se tratar de um palimpsesto, estes poemas também valem como homenagem aos 20 anos da morte de Drummond, que ocorreu no dia 17 de agosto.

Dantesca

No meio do caminho
não havia nada
nem pedra
nem buraco no chão

No meio do caminho
não encontrei
nem virgílio
que me guiasse
nem virgília
que me explorasse

No meio do caminho
por um triz
não encontrei
beatriz
que fora dançar
quadrilha
com josé

No meio do caminho
o fim já estava escrito

No meio do caminho
só me restava retornar
ao início da frase
parafrasear
em nova freqüência
modulada
o que para os outros
é estrada
e para mim
tropêço

Criação

E agora, Maria?
Onde está o poema inspiração?
Dá pra seguir este
padrão?
Pedrão, pedregulho, uma pedreira,
inteira,
no meu caminho.

Dá pra olhar com as pupilas fatigadas do outro?
Ou é melhor dar a volta
por cima ou por baixo
o negócio é se virar
Jacaré ou lobisomem
mas prefiro
escalar a pedreira
ou virar a pedra
re-criar o padrão
inventar o caminho
a contra-mão da palavra.

Lúcia Bettencourt

5 comentários:

ana rüsche disse...

adorei ler esses poemas aqui - são realmente ótimos e leves.

e a idéia da raspadinha, genial!

beijo

Andrea disse...

Bepa, achei lindos os poemas da Lúcia Bettencourt.
Beijos,

PS: descobri que Bepa, além de nome próprio, também significa confiança e fé.

Vera Helena disse...

Ana, minha cara, que bom você por aqui. Eu sou suspeita para falar de Lúcia Bettencourt, gosto muito do que ela escreve. Quanto às raspadinhas, já era hora de o blog fazer jus ao nome.
Andréa, que saudade! Adorei sua nova descoberta! Será que eu faço jus ao nome?

Andrea disse...

Bepa, querida, você não só faz juz ao nome como vai além dele. Beijos ;-)

Anônimo disse...

Recadinho para a Andrea:

Andrea...sua amiga estava certa no termo "jus ao nome" (jus-refere-se à justiça).
Ah...adorei os poemas!