Abrimo-lo é modo de dizer. O livro abriu-se sozinho, numa página gasta certamente por mãos ansiosas por bem procederem na vida. O capítulo tratava de senhoras e elevadores. E, antes que as associações mais extravagantes nos ocorressem diante da aproximação insólita das duas palavras, lemos: uma senhora deve evitar de todo modo viajar de elevador. As razões o livro não as dá. Provavelmente seriam óbvias.
Mas nem por ser tão categórico, o autor deixou de ser realista ou benevolente. De fato acrescentava: no caso de ser absolutamente necessária tal viagem, que as senhoras se mantivessem sentadas.
Sentadas no elevador? Se encolhemos os ombros, tal não deveria ter sido a atitude da dona das antigas mãos que seguravam o livro. Ela talvez tenha estremecido: “Meu Deus, ontem mesmo fui obrigada a entrar no elevador...e fiquei de pé!ah, o que não devem ter pensado de mim!”
Não nos cabe o direito de rir dessa aflição; outras, embora mais modernizadas, nós a temos.
O que nos ocorreu e que estava longe do autor a idéia de que um dia seu livro serviria, por um momento ao menos, para desvalorizar o imperativo da etiqueta e tirar a gravidade das gafes. E que sugeriria uma idéia infelizmente impossível de ser aplicada: a de que só se deveria ler o livro de etiqueta depois que este ficasse perdido por uns cem anos. Quanto mais velho, mais útil."
(Comício – 30 de maio de 1952)
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