Sempre que abro o computador, incomoda-me o nome do arquivo do meu primeiro romance, na verdade novela, ou qualquer gênero que o valha: estamos todos bem versão definitiva. Assim o nomeei como forma de convencer a mim mesma de que se é definitivo, ainda que a cada leitura eu modifique o que leio, sem dó. Posto aqui a última modificação do início de Estamos Todos bem, pois assim aumento as chances de pelos olhos da Internet modificá-lo ainda mais.
{...}As formigas passeavam famintas pelo açucareiro. O café sorvia frio e atravessado a realidade triste de Clara. Tentou sorrir ao ouvir a última palavra entoada com as notícias da manhã: “divórcio”. Ele fechou os olhos com força:
— Tudo vai ficar bem, Clara. Tudo vai ficar.
Ela arrematou o gole de café. Secretamente, sonhava com um saboroso adeus. Era para ser perfeita, a despedida. Um dos réquiens de Mozart, sublimado pelo quarto movimento da nona sinfonia de Beethoven. Mas sob as palavras “tudo vai ficar bem”, conseguia apenas sentir na boca do estômago a bílis ácida da separação. Agora não tinha o refúgio do sonho. Agora era o que se entendia por real: a fusão do café frio à realidade a queimar por dentro.{...}
4 comentários:
Adoro a novela Estamos todos bem e irõnicamente ou não gosto do título ! Aliás , tudo o que voce escreve é sensacional , com bom humor e ironia seus textos me cativam...
Poxa, anônimo, muito obrigada! Muito bom ler seus comentários por aqui. Mil beijos. (algum tempo após o romance pronto descobri o filme de mesmo nome).
Vera, gostei!
E lamento ter perdido o lançamento do Mind the gap.
Flores.
Olá, Edson, que alegria você por aqui!
Uma pena! Mas, o livro pode ser comprado no site da Editora Patuá, ou se você preferir, logo estará disponível na Biblioteca da PUC de São Paulo (assim você o conhece antes de comprá-lo!)
Abraço grande,
Vera
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