Que desperdício. Uma lágrima, tão salgadamente minha, escoa ralo abaixo enganada às gotas do chuveiro. Procuro intensamente por outra tão especial, mas o vapor do banho embaça minha visão do avesso.
Estremeço ao imaginar que algum pedaço de meus dias chorados irá saciar a sede de um rato de esgoto. Um frio de asco acomete meus pensamentos pela imagem daquele suposto rato enorme com as patas rosas e a cara de mau, passando a língua rapidamente a grandes goles em minha lágrima. Sinto nojo daquela lágrima - o pouco que resta de minha humanidade, diga-se - já na garganta seca daquele rato grande e peludo.
O filete de humanidade que lubrifica minha vista agora se transforma em ojeriza presa à cauda fina daquele bicho. Tento, com o nó na garganta e o arrepio no estômago, forçar outra lágrima no vinco dos olhos. É inútil. Solidifico-me de concreto e aço, enquanto vejo o ralo engolir restos ensaboados de minha sujeira junto com aquela lágrima.
3 comentários:
Prosa e poesia, choque de sensações contraditórias, rudeza e beleza.
Amei, Vera, parabéns ;-}
VÉ, ISTO AQUI TÁ DEMAIS!! PARABÉNS, MINHA PRIMA LINDA, DOCE VERINHA, DONA DE UMA INTELIGÊNCIA ÍMPAR, DE UMA CRIATIVIDADE SEM FIM... Q. VÁ LONGE, ESPALHANDO ESSE ENCANTO POR ONDE ANDAR!
BEIJÃO E PARABÉNS!!
CÁ
Cá, linda, obrigada! Beijos, Vé
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