"Querida, você tem um coração na garganta"
Minha avó

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Hoje: um palíndromo

"Numa primeira e definitiva identificação consigo mesmo, o sujeito humano se aliena de si quando mais esperava se integrar. O espelho, parâmetro de exterioridade, oferece-lhe a chance de se enxergar interior, mas ao preço de se ver como um outro. Nesta relação com o semelhante, a figura que se reflete aparece invertida, coincidindo o lado direito com o esquerdo, e vice-versa. Esta assimetria é o elemento que impõe a diferença no registro do idêntico, forçando a alteridade. Por este viés, aquilo que seria o mais conhecido e familiar, a própria imagem, vira estranho. Sinistro, então aludiria ao que excede à dimensão do narcisismo, ficando fora da alçada do eu, incontrolável."

CESAROTTO, Oscar. No olho do outro: O Homem de areia segundo Hoffmann, Freud e Gaiman. São Paulo: Editora Iluminuras, 1996. p.115

"Quando contemplo no todo um homem situado fora e diante de mim, nossos horizontes concretos efetivamente vivenciáveis não coincidem. Porque em qualquer situação ou proximidade que esse outro que contemplo possa estar em relação a mim, sempre verei e saberei algo que ele, da sua posição fora e diante de mim, não pode ver: as partes do seu corpo inacessíveis ao seu próprio olhar — a cabeça, o rosto e sua expressão —, o mundo atrás dele, toda uma série de objetos e relações que, em função dessa ou daquela relação de reciprocidade entre nós, são acessíveis a mim e inacessíveis a ele. Quando nos olhamos, dois diferentes mundos se refletem na pupila dos nossos olhos [...]
Esse excedente da minha visão, do meu conhecimento, da minha posse — excedente sempre presente em face de qualquer outro indivíduo é condicionado pela singularidade e pela insubstitutibilidade do meu lugar no mundo: porque nesse momento e nesse lugar, em que sou o único a estar situado em dado conjunto de circunstâncias, todos os outros estão fora de mim."

BAKHTIN, Estética da Criação Verbal.Tradução Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2006. p.21

A aporia na qual me encontro atualmente na tese e, por extensão, na vida (até porque dificilmente reservaria quatro anos da minha vida a algo que não percorresse minha corrente sanguínea)