"Querida, você tem um coração na garganta"
Minha avó

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Aviso aos navegantes

Apaguei o ultimo post (alguem acreditaria que foi sem querer..) mas recebi sim os comentarios de Hugo e de Alyson Daas. Muito obrigada Alyson, logo logo posto mais Alma. E Hugo, o pior e que acho que voce sabe de que quem falo. Beijos a todos

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Feliz Aniversário

Este é para meu pai, que faz aniversário hoje. Um poema de Sylvia Plath, que, apesar de ter perdido seu pai ainda menina (9 anos), o amou por toda sua vida curta, qual amo o meu, por toda minha vida elástica, com uma única e crucial diferença - para minha felicidade (mais do que mereço) - estamos todos vivos, em carne, osso, coração e cobertor, e meu amor, apesar de grande, não mata.


Electra On Azalea Path - Sylvia Plath



The day you died I went into the dirt,
Into the lightless hibernaculum
Where bees, striped black and gold, sleep out the blizzard
Like hieratic stones, and the ground is hard.
It was good for twenty years, that wintering --
As if you never existed, as if I came
God-fathered into the world from my mother's belly:
Her wide bed wore the stain of divinity.
I had nothing to do with guilt or anything
When I wormed back under my mother's heart.

Small as a doll in my dress of innocence
I lay dreaming your epic, image by image.
Nobody died or withered on that stage.
Everything took place in a durable whiteness.
The day I woke, I woke on Churchyard Hill.
I found your name, I found your bones and all
Enlisted in a cramped necropolis
your speckled stone skewed by an iron fence.

In this charity ward, this poorhouse, where the dead
Crowd foot to foot, head to head, no flower
Breaks the soil. This is Azalea path.
A field of burdock opens to the south.
Six feet of yellow gravel cover you.
The artificial red sage does not stir
In the basket of plastic evergreens they put
At the headstone next to yours, nor does it rot,
Although the rains dissolve a bloody dye:
The ersatz petals drip, and they drip red.

Another kind of redness bothers me:
The day your slack sail drank my sister's breath
The flat sea purpled like that evil cloth
My mother unrolled at your last homecoming.
I borrow the silts of an old tragedy.
The truth is, one late October, at my birth-cry
A scorpion stung its head, an ill-starred thing;
My mother dreamed you face down in the sea.

The stony actors poise and pause for breath.
I brought my love to bear, and then you died.
It was the gangrene ate you to the bone
My mother said: you died like any man.
How shall I age into that state of mind?
I am the ghost of an infamous suicide,
My own blue razor rusting at my throat.
O pardon the one who knocks for pardon at
Your gate, father -- your hound-bitch, daughter, friend.
It was my love that did us both to death.

Brincadeira de criança (será?)

Mais Telefone sem Fio - não resisti, precisava explicar o título (ou não, pois é um pouquinho mais...) -

" [...]Todos alinhados, um a um, Alma era a quarta da fila. Passavam a frase ouvido a ouvido, com o cuidado do ourives. Alma catou as palavras desajeitada. Por fim, sussurrou para o dentuço ao lado uma mentira. Alma sempre mentia no telefone sem fio. Trocava as palavras por outras de sua preferência. A brincadeira era simples. Uma criança inventava uma frase e a cochichava para o amigo do lado, que a passava para o outro, e assim, assim, assado, o último da fila repetia em voz alta o que acabara de ouvir, que geralmente era bem diferente da frase pensada pelo primeiro da fila. Mas, quando Alma estava na brincadeira, o falado era como que o oposto do inventado.
— Vou tomar sopa de pedra amanhã!
— Vixi, nada a ver.
— O que falou pra ele?
— Num ninho de mafagafos tinha cinco mafagafinhos.
— Putz Grilo! — soltou o dentuço.
Alma protegeu sua risada com uma fungada forte.
— Eca, Alma, que nojenta.
— Quer um pouco, né? Então lá vai, ranho pra você.— Alma finalmente riu.
— Eca! Tira pra lá essa mão. Vamos brincar de outra coisa?
— Pega-pega americano. Esse é o melhor.
— Cala a boca, você nem sabe jogar isso aí.
— É mesmo. Acho que inventou isso, e fica falando aí que é americano.
— Ó como sei falar americano: u ó tem som de u.
— Tenho que ir, minha mãe tá lá na frente. — inventou Alma, que somente brincava de telefone sem fio. Depois partia com suas mentiras e desculpas frágeis. [...]"

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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Quem sou eu

"Telefone Sem fio" - Alma quer falar também!

"(....)meu nome é Alma Ferreira Borges, tenho alguns anos (o suficiente), sou casada e desinteressada. Não, não tenho filhos, mas uma porção de sonhos sem modos. Tenho também uma maneira bagunçada de me entender com a vida.
Não desapareça você, um dia ainda gostará de mim e dos meus sonhos bagunçados. De vez em quando ando nas pontas dos pés, eu sei. Mas, no fundo, ainda piso firme no concreto frio. Apenas não quero olhar para cima. Respirar fundo o cheiro de ausência desta tarde. Porém, fique você aí, não irá se arrepender, garanto (....)"


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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Só mais uma coisa...

E da Paraolimpíada, ninguém fala? Até ontem, o Brasil estava em QUINTO lugar, com OITO medalhas de ouro, QUATRO de prata e CINCO de bronze (hoje ganhou mais algumas medalhinhas).... E não é assunto de esquina ... E não ocupa páginas e páginas do jornal ... E não está na homepage da UOL...E não aparece na Globo nenhum atleta a chorar afônico sobre o microfone de algum repórter de sorriso bege, quando vê a família do outro lado mundo suspirar o que todos queremos ouvir: "nós te amamos", "estamos morrendo de saudade", "estamos torcendo por você", etc, etc, etc. (quase não vejo o Jornal da Globo, mas, reportagens assim são temas recorrentes nas conversas dos meus familiares e conhecidos)

Das duas, uma: ou há uma forte tendência em se valorizar a derrota do nosso sonho intenso, nosso raio vívido; ou, o que mais temo, arrepio até a última fisgada do dedão do pé, ainda vemos o mundo sob um ponto de vista sombrio e perigoso, a dividi-lo entre os iguais e os diferentes e, por isso, a fazer da Paraolimpíada café com leite!

sábado, 6 de setembro de 2008

Fausto Wolff (17 outubro 1940 - 5 setembro 2008)



"Tem dois jeitos de se instalar no mundo: o certo e o errado. Em algum momento a humanidade escolheu errado" O lobo

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Autobiografia (autoretrato?)

Outra raspadinha: [já no prefácio direcionado ao leitor]

"Este é o único retrato de homem, pintado exatamente segundo o natural e em toda a sua verdade, que existe e que provavelmente existirá jamais. Quem quer que sejais, vós a quem o meu destino ou a minha confiança fizeram árbitro deste caderno, pelos meus infortúnios, pelas vossas entranhas, e em nome de toda a espécie humana,[...]" J.J. Rousseau Confissões


"Do autor ao leitor [...] Prefiro, porém, que me vejam na minha simplicidade natural, sem artifício de nenhuma espécie, porquanto é a mim mesmo que pinto. Vivos se exibirão meus defeitos e todos me verão na minha ingenuidade física e moral, pelo menos enquanto o permitir a conveniência. Se tivesse nascido entre essa gente de quem se diz viver ainda na doce liberdade das primitivas leis da natureza, asseguro-te que de bom grado me pintaria por inteiro e nu. [...] E que agora Deus o proteja. De Montaigne, em primeiro de março de 1580." Montaigne Ensaios


Já postei o aviso ao leitor de Montaigne, mas precisava completá-lo com esta raspadinha (aliás, são duas traduções diferentes, prefiro a da pesquisadora Leila Aguiar, que estudou a autobiografia com seus alunos - entre eles, EU. Analisamos o simulacro do EU em uma autobiografia - chamada por ela de Autoretrato. Pesquisa extremamente atual!)