"Querida, você tem um coração na garganta"
Minha avó

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Esquinas

Ele ultrapassava a magreza. Na realidade, expunha seus ossos saltados sob uma fina pele. Um quase nada a errar alguma direção na Av. Paulista. Passou por mim, mas não me viu. Enxergava tão e somente o reflexo de seu peso de fome. A miséria é narcisista, acredito, inflinge sua imagem, qual um espelho ao miserável. Sem camisa - também doía um quê de culpa nos outros - ele cantava alto e forte, como se o canto o sustentasse. Ressoava a frase: “só eu sei, as esquinas por que passei”.
A partir daquele instante entendi Djavan.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Manias Parte i²

O sorriso constante de meus lábios machucados provém da minha inabilidade no trato com as pessoas, e não desta “bondade” que insistem em incluir na lista de minhas qualidades, a qual é bem pequena, diga-se.

Lúcia Bettencourt, Eça de Queiroz e Homero

Outra(s) raspadinha(s): (estas inspiraram meu blog, e acho que Lúcia B. sabe disso) Não é difícil perceber o Canto V da Odisséia no conto "A Perfeição" de Eça de Queiroz . O conto "Perfeição" de Lúcia B. vai mais além. Oculta canto e conto em um só fôlego nas entrelinhas de suas frases.

Obs: Quem nunca leu Odisséia, provavelmente já o leu em vários outros autores.

A Perfeição

"E, através da vaga, fugiu, trepou sôfregamente à jangada, soltou a vela, fendeu o mar, partiu para os trabalhos, para as tormentas, para as misérias - para a delícia das coisas imperfeitas!"

Eça de Queiroz