"Querida, você tem um coração na garganta"
Minha avó

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Anuncie aqui

Não sei se alguém reparou, mas o Palimpsesto agora tem publicidade. Quem quiser "anunciar" no blog, basta criar um "anúncio" com no máximo 300 caracteres além de um título curto e enviá-lo para o e-mail: verossi@uol.com.br. Somente serão publicados anúncios nonsense. O "anúncio" será linkado ao blog do seu "anunciante". Aceitamos muita criatividade como forma de pagamento.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Eu e vós qualquer dia

Recebi teu e-mail, o li com prazer e algum terror. Pequena, como bem o disseste naquele dia, a esperança é a última que morre. Morremos antes. Da minha parte, revido o fim e o peso dos nossos dias com nossa embriaguez. Na medida em que também os brindo. Ah, antes que me esqueça, se precisares da vida, ainda a tenho aqui, deserta e fria, inerte sob meu corpo morno. Ainda não decidi o que fazer dela, por isso é tua, magrelinha. Em dias mais enjoados, há que se curvar sobre a pia do nosso minúsculo banheiro e deixar que uma gota de suor salgue a pele, enquanto se esvai pelo ralo o não mais suportar aquilo de cheiro de carne viva. A barriga crescerá, assim como o pouco de vida que darei a ti, minha doce.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Gregório de Matos, Camões e Antigo Testamento

Outra raspadinha: esta foi feita pelos alunos do meu estágio na PUC (esta nova geração ainda vai dominar o mundo!)

Gregório de Matos

SETE ANOS A NOBREZA DA BAHIA
Serviu a uma pastora indiana bela
Porém serviu à Índia, e não a ela,
Que à Índia só por prêmio pretendia.

Mil dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la:
Mas Frei Tomás, usando de cautela,
Deu-lhe o vilão, quitou-lhe a fidalguia.

Vendo o Brasil que por tão sujos modos
Se lhe usurpara a sua Dona Elvira
Quase a golpes de um maço e de uma golva:

Logo se arrependeram de amar todos
E qualquer mais amara, se não fora
Para tão limpo amor tão suja noiva.

Luís Vaz de Camões -

SETE ANOS DE PASTOR JACÓ SERVIA
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
Que a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la:
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe deu a Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Assi lhe era negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,

Começou a servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fora
Pera tão longo amor tão curta vida!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Prêmio Dardos - os indicados


Não disse!? Fazendo as contas, ultrapasso os 15 indicados. Vou cortar alguns (os mais famosos, que já têm outras indicações por aí)

Aqui vai minha listinha. A regra, todos já sabem

Diálogos e Intertextos - literatura e tudo mais de uma talentosa poeta.

Por que elas não querem casar??? - reflexões inteligentes, bem humoradas e um tanto poéticas sobre o relacionamento humano (no singular e no plural)

A loucura é sensata - Não precisa dizer mais nada, ainda pelo nome do autor, Victor Hugo, mantenho-me sem palavras

A Lamparina - sobre a "luz das idéias" que "não se encontra apenas no conhecimento, mas nos porões daquelas mentes que voltam a si e refletem a própria existência"

SP a pé - SP mais bonita sob os pés e as palavras dessa contadora de causos: Débora (coautora do meu conto mais bonito)

Peixe de Aquário - Deixaria os mais famosos de lado, mas não resisto, sou fã de Ana Rüsche (que se mantém com trema pós reforma ortográfica) não somente pelo que escreve como por suas inúmeras ações em prol da literatura e da poesia.

Adotei o Vereador Aurélio Miguel - todos os blogs criados, com base na Campanha Adote um Vereador do Mílton Jung, para acompanhar o trabalho dos vereadores de São Paulo merecem o prêmio. Como os blogs a seguir:

Adotei o Vereador Floriano Pesaro

Confissões de um ignorante - adotou Wadih Mutran

Cuidando da Cidadania - adotou Netinho de Paula

De olho no Antônio Carlos Rodrigues

De olho no Vereador Kamia

Moralize - de olho no Celso Jatene e Penna

Na Cola do Timóteo - Adotou Agnaldo Timóteo

Tô de olho no Netinho

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Em alguma entrevista de trabalho

Quem nunca passou por entrevistas de trabalho? E eu imagino quem formula as perguntas. São tão estúpidas, na maioria das vezes. Reproduzo aqui uma pela qual passei:

"-Você é boa em que? Quero sinceridade na resposta. Sim, porque temos que saber em que somos bons, blá,blá,blá
-Sou boa em Resta-Um, Palavras Cruzadas e Sudoku. O emprego é meu?"

Essa vai pro Telefone sem fio

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Contão com título e melhor do que original!

A Débora terminou o conto. Ficou melhor do que se eu continuasse. Não perdeu o tom, ao mesmo tempo em que acrescentou um "tempero" todo dela. Adorei a brincadeira! Ah, o título é dela também.


Felicidade fora de contexto

Estava me sentindo bem naquela manhã. Uma espécie de alegria sincrônica, um rombo no peito simultâneo ao que me dessem como garantia de vida. Certa música que ouvisse antes de ligar o rádio, de fato. Uma frase dita antes que alguém pensasse em abrir a boca. Uma ligação importante concomitante (odeio esta palavra!) ao meu desejo de ser importante. “Não pode ser tão perfeito!”, pensei. Não estava acostumada a qualquer felicidade isenta de esforço. Sempre desconfio da alegria espontânea.

Tranquei meu quarto, já inclinada à bondade. Aproveitei meu café da manhã com a boca mais doce, receptiva, distraída ante uma felicidade por se roubar. Mastiguei macio o pão amanhecido, mergulhado no café frio. Rumo à loja onde trabalho, larguei-me no confortável movimento de minhas pernas. Que sensação, por Deus!

Os rostos cansados bocejavam duvidosos, qualquer esboço de felicidade era incompatível com um metrô abarrotado de desilusão. Encaravam-me solitários e céticos. Estiquei meu sorriso, como uma afronta. Sabia que não iria durar, pois mantenho um constante vinco preocupado entre as sobrancelhas, a fazer do sorriso um movimento antinatural dos lábios. Mas desafiei minha natureza, naquela manhã, e permaneci sorridente.

Afinal, a alegria surgiu, não pedi por ela. Tinha mais era que aproveitar aquele estado quase eufórico. Ainda que receosa. Sabia que a qualquer fração de segundo ela poderia me escapar. Mantive o sorriso. Como se fosse possível reter sentimento travesso dentro da gente. Como quem vê repetidas vezes um final feliz de filme na esperança de sentir a mesma felicidade que sentiu da primeira vez. Momentos assim não se guardam num vidrinho.

Segui em frente. Senti uma compaixão por cada cliente que entrava na loja. Vontade imensa de dar um abraço até mesmo na mais infeliz das criaturas. Meu sorriso estampado no rosto nem precisava mais de esforço. Que tipo de sentimento é esse que desafia até o vinco preocupado na testa? Um problema, um bate-boca, uma discussão. Clientes em tempos de Natal são sempre estressados. Nada abalava minha euforia silenciosa. Dessas de sorriso de canto de lábio.

Como se fosse eu um anjo incumbido de passar ternura aos homens. Que besteira. Justo eu, que nunca dei crédito aos anjos, aos santos, às cartas, aos búzios e a tudo o que promete felicidade instantânea. A noite caiu. Hora de voltar para casa. Achei que aquele sentimento inebriante me deixaria ao meio dia. Não. Ele me perseguiu ao longo das horas. Na volta para casa. Na rua escura, feiosa e cheirando a urina onde vivo. Me perseguiu na minha janta solitária, feita de sobras e misturas improváveis. Ainda na hora da novela, sorriso insistente.

Fui dormir sem entender como é possível a felicidade fora de contexto. E me acreditando pouco merecedora disso. O dia seguinte seria a continuação de ontem. Hoje simplesmente não existiu.

E por falar em Ademir Assunção

Um poema dele (ele é foda!)

aos poucos

vamos ficando

loucos



aos loucos

nada de muito

pouco

SOLILÓQUIOS

Não perco a mania de falar sozinha, como já o disse aqui. Minha irmã chef, advogada e inteligente que só, Ly, disse-me uma vez que eu mesma me basto em uma conversa, eu-mesma pergunto, eu-mesma respondo e até eu-mesma discordo de mim.

Como não güento, quero dividir com alguém minha solidão, posto aqui alguns dos diálogos erigidos entre mim e mim-mesma. O primeiro já o escrevi de certa forma por aí e por aqui:

-Não me interessam seu estado civil, sua profissão, sequer sua gravata colorida. Somos mais do que formulários de banco por se preencherem.
-E o que somos?
-Nunca saberemos, por isso somos mais.

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-Você é ateu?
-Prefiro o mistério.

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-Somos audaciosos, minha torta mão esquerda.
-Tamo mais pra loucos, meus redondos olhos fechados.

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-Te amo.
-E agora?

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-Quem é você?
-O entorno.

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-Não tenho saco pra livros de auto-ajuda.
-Logo você, que sempre pede socorro.
-Ainda assim, Ademir Assunção parece-me mais convincente: "não sou exemplo pra ninguém".

domingo, 4 de janeiro de 2009

NOSSO SAMBA





Nunca escrevi cartas de amor pra ele. Sempre tive medo de desdizer o que sinto. Além do que ele ultrapassa qualquer poesia. Mas, por mais um ano juntos (tiramos essa foto ontem na Av. Paulista), posto aqui nosso samba que um dia ele irá musicar, na nossa casinha lá em Marambaia.


Quem ousa definir o amor? Aquilo que a voz cala, aperta o peito, machuca de tão bom. Abriga um olhar desamparado, domina cada desatenção de um momento desapercebido, irracionaliza o racional, entorpece a sobriedade. Até que abranda as feridas de outros amores, aconchega os anseios, engendra outros, e, dia a dia reconstrói-se nas idiossincrasias do outro. É quando casa-se. Casa-se um riso e uma brincadeira, um sono quente e um delicioso bom-dia, um café da manhã e um beijo de pão com manteiga, um olhar confidente e segredos no ouvido, um sonho e uma realidade, a dois.