Meus dias são mais vividos dentro de uma biblioteca. Passo horas redondas e quebradas dentro dela. A do Centro Cultural é minha preferida, nos aceita como somos. Com nossas garrafinhas de água, nossos outros livros (não é ciumenta, aceita livros de outras bibliotecas), nossas roupas rasgadas,etc ,etc. Antes de iniciar o mestrado já vivia em bibliotecas, aliás, por elas que conheci autores como Proust, entre outros.
Nesses anos intensos de biblioteca, descobri quem são seus freqüentadores. O mais engraçado é que deste grupo não fazem parte aqueles "intelectuais" e "escritores" que se dizem leitores compulsivos para seus entrevistadores babões.
Não, o grupo é formado por estudantes pré-vestibular e pré-concurso e sobretudo por mendigos. Exatamente, por mendigos, uma grande parte já enlouquecida pela miséria e pelo excesso. Estes sim, leitores compulsivos. Eles falam sozinhos, afastam os demais por sua condição marginal, e lêem muito. Muitos livros, jornais, muitos dos seus escritos (porque também escrevem muito), por fim lêem tudo que a vida lhes negou, conhecimento, sonhos, etc, etc, etc. Eles não participam de bienais ou das festas de Parati, mas destes sim sou grande fã!
[do gr. palímpsestos, 'raspado novamente', pelo lat. palimpsestu.]. S.m. 1. Antigo material de escrita, principalmente o pergaminho, usado, em razão de sua escassez ou alto preço, duas ou três vezes[duplo palimpsesto], mediante raspagem do texto anterior
"Querida, você tem um coração na garganta"
Minha avó
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Minha tese sobre Clarice Lispector
O tí estin de Clarice Lispector
Na tentativa de responder à pergunta “o que é isto — filosofia?”, Heidegger discorreu sobre o próprio questionamento, uma vez que, para ele, não somente a filosofia é grega em sua origem, mas também o modo como se pergunta, mesmo que à sua maneira de questionar, ainda é grego. A pergunta: “que é isto ...?” em grego, “tí estin”, mantém a questão, ao que algo seja, multívoca.
De acordo com o filósofo, a resposta à indagação “que é aquilo lá longe?”, “uma árvore”, consiste na nomeação de uma coisa que não se conhece direito, logo, o tí estin implica, na realidade, a questão: “o que é aquilo que designamos ‘árvore’?”
As indagações na escritura de Clarice Lispector em muito se assemelham ao tí estin. Tomemos como exemplo a crônica escrita para o Jornal do Brasil, cujo próprio título O que é que é? vem a concretizar a pergunta, enquanto questão da essência, que se mantém sempre viva por intermédio da essência que se interroga.
Na crônica, a autora perscruta os sentimentos erigidos a partir de situações que vive, com a interrogação “como se chama o que sinto?”, até concluir que “o único modo de chamar é perguntar: como se chama?” (A DESCOBERTA DO MUNDO, 1999, p.199)
Em outras palavras, a autora não pergunta primeiramente “o que é aquilo lá longe” e sim, aproxima-se de pronto da pergunta “o que é aquilo que designamos...?”, e, por conseguinte, do tí estin. Há o interesse pela coisa que não se conhece direito, pelo “que”, e não pela nomeação.
Como se sabe, Clarice Lispector também foi jornalista, e, durante as décadas de 1960 e 1970 trabalhou como entrevistadora para as revistas Manchete (maio 1968-outubro1969) e Fatos e Fotos / Gente(dezembro1976- outubro1977), produzindo um total de 83 entrevistas (59 entrevistas para a Manchete e 24 para a Fatos e Fotos/Gente).
Interessante observar que, apesar de ter como entrevistados, artistas, políticos, e personalidades da época, como Chico Buarque, Tarcísio Meira e, até mesmo, o Padre Quevedo, Clarice manteve o caráter metafísico em suas perguntas.
No estilo “pingue-pongue”, a entrevista se aproxima de seu entrevistado com indagações como “O que é o amor?”, “Qual a coisa mais importante do mundo?”, “Qual a coisa mais importante do mundo para você como indivíduo?”, as quais o induz a “olhar para dentro”, a aprofundar-se no próprio ser, exigindo um maior contato consigo mesmo.
Desta forma, por meio da fantasia de carnaval, por exemplo, Clarice Lispector extrai de seu entrevistado, Clóvis Bornay, considerações a respeito da personalidade humana, subentendidas na explanação sobre a necessidade daquele que interpreta modelos carnavalescos em ser “bom ator”, capaz de possuir “a inteligência de um gênio, a força de Hércules, a bondade de Cristo, as alegrias de uma criança, a ternura de uma mulher e as artimanhas de um demônio”. (LISPECTOR, C. Diálogos Possíveis com Clarice Lispector. Revista Manchete, Rio de Janeiro, ano16, n. 879, p.48-49, 22 fev. 1969).
Ou ainda, ao entrevistar “o primeiro figurino do país”, Tereza Souza Campos, pelo simples fato de “não simpatizar com ela”, Clarice revela em sua entrevistada uma mulher, que, muito além de ser a mais elegante, também é “inteligente”, que, com os “olhos virados para dentro”, reflete sobre o que é, capaz de despertar a simpatia de alguém que, mesmo sem lhe ter empatia, em um primeiro momento, chama-a de “une femme d’esprit” (LISPECTOR, C. Diálogos Possíveis com Clarice Lispector. Revista Manchete, Rio de Janeiro, ano16, n. 869, p.40-41, 14 dez. 1968).
Para Clarice entrevistadora, as entrevistas correspondem uma forma de compreensão da Vida, uma vez que é clara sua preocupação com o entrevistado não enquanto celebridade, porém, enquanto ser humano, misterioso para consigo mesmo.
É possível que, também nas entrevistas, Clarice Lispector não estava atrás de respostas, mas da pergunta em essência, do ti estin, cuja chama se mantém viva porque se interroga.
Na tentativa de responder à pergunta “o que é isto — filosofia?”, Heidegger discorreu sobre o próprio questionamento, uma vez que, para ele, não somente a filosofia é grega em sua origem, mas também o modo como se pergunta, mesmo que à sua maneira de questionar, ainda é grego. A pergunta: “que é isto ...?” em grego, “tí estin”, mantém a questão, ao que algo seja, multívoca.
De acordo com o filósofo, a resposta à indagação “que é aquilo lá longe?”, “uma árvore”, consiste na nomeação de uma coisa que não se conhece direito, logo, o tí estin implica, na realidade, a questão: “o que é aquilo que designamos ‘árvore’?”
As indagações na escritura de Clarice Lispector em muito se assemelham ao tí estin. Tomemos como exemplo a crônica escrita para o Jornal do Brasil, cujo próprio título O que é que é? vem a concretizar a pergunta, enquanto questão da essência, que se mantém sempre viva por intermédio da essência que se interroga.
Na crônica, a autora perscruta os sentimentos erigidos a partir de situações que vive, com a interrogação “como se chama o que sinto?”, até concluir que “o único modo de chamar é perguntar: como se chama?” (A DESCOBERTA DO MUNDO, 1999, p.199)
Em outras palavras, a autora não pergunta primeiramente “o que é aquilo lá longe” e sim, aproxima-se de pronto da pergunta “o que é aquilo que designamos...?”, e, por conseguinte, do tí estin. Há o interesse pela coisa que não se conhece direito, pelo “que”, e não pela nomeação.
Como se sabe, Clarice Lispector também foi jornalista, e, durante as décadas de 1960 e 1970 trabalhou como entrevistadora para as revistas Manchete (maio 1968-outubro1969) e Fatos e Fotos / Gente(dezembro1976- outubro1977), produzindo um total de 83 entrevistas (59 entrevistas para a Manchete e 24 para a Fatos e Fotos/Gente).
Interessante observar que, apesar de ter como entrevistados, artistas, políticos, e personalidades da época, como Chico Buarque, Tarcísio Meira e, até mesmo, o Padre Quevedo, Clarice manteve o caráter metafísico em suas perguntas.
No estilo “pingue-pongue”, a entrevista se aproxima de seu entrevistado com indagações como “O que é o amor?”, “Qual a coisa mais importante do mundo?”, “Qual a coisa mais importante do mundo para você como indivíduo?”, as quais o induz a “olhar para dentro”, a aprofundar-se no próprio ser, exigindo um maior contato consigo mesmo.
Desta forma, por meio da fantasia de carnaval, por exemplo, Clarice Lispector extrai de seu entrevistado, Clóvis Bornay, considerações a respeito da personalidade humana, subentendidas na explanação sobre a necessidade daquele que interpreta modelos carnavalescos em ser “bom ator”, capaz de possuir “a inteligência de um gênio, a força de Hércules, a bondade de Cristo, as alegrias de uma criança, a ternura de uma mulher e as artimanhas de um demônio”. (LISPECTOR, C. Diálogos Possíveis com Clarice Lispector. Revista Manchete, Rio de Janeiro, ano16, n. 879, p.48-49, 22 fev. 1969).
Ou ainda, ao entrevistar “o primeiro figurino do país”, Tereza Souza Campos, pelo simples fato de “não simpatizar com ela”, Clarice revela em sua entrevistada uma mulher, que, muito além de ser a mais elegante, também é “inteligente”, que, com os “olhos virados para dentro”, reflete sobre o que é, capaz de despertar a simpatia de alguém que, mesmo sem lhe ter empatia, em um primeiro momento, chama-a de “une femme d’esprit” (LISPECTOR, C. Diálogos Possíveis com Clarice Lispector. Revista Manchete, Rio de Janeiro, ano16, n. 869, p.40-41, 14 dez. 1968).
Para Clarice entrevistadora, as entrevistas correspondem uma forma de compreensão da Vida, uma vez que é clara sua preocupação com o entrevistado não enquanto celebridade, porém, enquanto ser humano, misterioso para consigo mesmo.
É possível que, também nas entrevistas, Clarice Lispector não estava atrás de respostas, mas da pergunta em essência, do ti estin, cuja chama se mantém viva porque se interroga.
José Luís Peixoto
quantas vezes apostaste a tua vida?
apostei a minha mil vezes
perdeste tudo?
sim, perdi sempre tudo.
apostei a minha mil vezes
perdeste tudo?
sim, perdi sempre tudo.
terça-feira, 19 de agosto de 2008
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Minha Clara é turva
Engraçado, estava eu viajando pela Internet, quando me deparei com outra personagem chamada Clara, aspirante a escritora. Se bem que a minha já nasceu assim, defeito de fabricação, diria Alfredo. A outra Clara é do livro Pó de Parede, cujo título, coincidência extrema, também foi um dos 12 finalistas daquele Prêmio da Jovem Literatura ... alma gêmea? Às vezes penso sobre a criação artística, se se nasce sozinha, ou se alguém em algum canto também tem a mesma idéia, e me vem a pergunta, inclusive, incitadora deste site: somos originais? Aliás, não disse, o vencedor do Prêmio é escritor do site Paralelos, site pelo qual conheci os escritores do 2 º juri do Concurso.
Voltando à Clara, quando escolhi o nome, pensei na Clara de Lygia Fagundes Telles, apelidada carinhosamente de Turva. Não poderia ser outro nome!
Por via das dúvidas, a próxima personagem irá se chamar Eufrosina.
Voltando à Clara, quando escolhi o nome, pensei na Clara de Lygia Fagundes Telles, apelidada carinhosamente de Turva. Não poderia ser outro nome!
Por via das dúvidas, a próxima personagem irá se chamar Eufrosina.
Malabarismos do cotidiano parte V
RICO - Aquele que mendigava um sorriso percebeu a inviabilidade de sua esmola. Agora se contenta com outro pedido: "hei, moço, me dá um 'ai'?"
Assinar:
Postagens (Atom)