"Querida, você tem um coração na garganta"
Minha avó

sexta-feira, 4 de março de 2011

Livro que se termine no Dia do Livro é de bom tom que se poste

[...] A senhora de sombra larga tinha um cacoete peculiar. Quando ficava muito nervosa, oscilava o lábio superior e as narinas. Parecia respirar um ar diferente dos outros. Seus olhos não a denunciavam tanto quanto a boca e o nariz, que se dilatava, como se aspirasse uma espécie de ódio contido ou de felicidade frustrada. [...]

[...]
Cem mil dólares em cédulas estampadas pela efígie de Benjamin Franklin. Notas verdinhas, dizem, têm cheiro. Aquelas deveriam ter, todas escondidas em uma cueca suja e suada. A valise, uma maleta de náilon azul-escuro, passava pelo aparelho de Raio X enquanto o quase careca sentia o atrito das notas sobre a pele. Eram onze da manhã e o aeroporto já estava cheio. Com as verdinhas entre a pele e o elástico da cueca suja, o dono da mala azul-escuro transpirava. Algo não ia bem. Os agentes pareciam sentir o cheiro daquelas cédulas e do suor que se agarrava à cueca. A polícia o prenderia em flagrante, é o que apitava o aparelho de Raio X. Pior do que explicar o dinheiro amarrotado na valise, era se expor com as verdinhas grudadas na cueca azul-calcinha, a qual denunciaria de imediato sua dor de barriga. Como queria não sentir aquela dor de barriga quando ficava nervoso.
[...]

Fragmentos de Telefone Sem Fio
versão atual de novembro de 2009 a 23 de abril de 2010

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2 comentários:

Douglas Vian disse...

Vera,

Quando teremos o prazer de ver o livro "Telefone Sem Fio" publicado?

abraços
Douglas Vian

Vera Helena disse...

Douglas, coisa boa demais você por aqui. Não sei não, viu. Na verdade, sequer estou procurando. É um tanto desgastante essa coisa de procurar editora, esperar alguma resposta, etc. E a tese já me desgasta um tanto!

Beijos,

Verushka