Convido meus cinco leitores ao lançamento do livro Telefone Sem Fio. O convite, bonito e forte, abaixo
[do gr. palímpsestos, 'raspado novamente', pelo lat. palimpsestu.]. S.m. 1. Antigo material de escrita, principalmente o pergaminho, usado, em razão de sua escassez ou alto preço, duas ou três vezes[duplo palimpsesto], mediante raspagem do texto anterior
"Querida, você tem um coração na garganta"
Minha avó
sábado, 22 de março de 2014
domingo, 16 de março de 2014
Nombre Doble
Meu conto Nome Duplo agora em espanhol:
https://sites.google.com/site/cuentosbrasil/brazilian-stories/nombre-doble
https://sites.google.com/site/cuentosbrasil/brazilian-stories/nombre-doble
Prefácio do Telefone Sem Fio
Ler Ana Rüsche é matar a saudade do trema, de um tempo que não vivi, da taturana, da infância guardada em um canto distante mas que ainda dói que nem dedo mindinho, da poesia que escondemos no botão do paletó. Suas palavras, senhoras e senhores, sobre Telefone Sem Fio
Enfim, o que nos resta, diante de Telefone sem Fio, é somente uma única prerrogativa: o direito da dúvida. Aproveita.
Que sussurre a primeira palavra
quem nunca mentiu ao brincar de telefone sem fio
quem nunca mentiu ao brincar de telefone sem fio
por Ana Rüsche
Você já soube a tua própria verdade na língua? Até que a saiba tanto e a transforme em mentira? Até que se transmude em sonho, se consuma no cigarro durante o papo com um amor daquela noite, se retorça em uma anotação à toa na folha enquanto participa de uma reunião no trabalho, até que cintile num cisco, num incômodo? Você já soube a tua verdade até não a reconhecer como própria? Quando se apresenta como uma estranha e se senta no sofá da sala com uma familiaridade espantosa?
Telefone sem fio não ajuda a responder nenhuma dessas perguntas. Bem mais atiça quem lê para que outras sejam feitas. Síndrome de sobrevivência para que se lide com aquela porção horrorizada e desconfortável de nós mesmos. Que, ao escutar a canção querida de Joni Mitchell, já não reconhece mais um beijo roubado adolescente e apenas enxerga a dúvida, numa porção inacabada do próprio rosto refletido no retrovisor do carro que não dirige. No quê nos transformamos todos os dias?
É a história de Alma. Alma Pontes. Da tenra infância à idade adulta. Do telefone cinza ao aparelho celular. Inicia-se com a pequena menina estrábica, que aprende a mentir na brincadeira de telefone sem fio e que revida da vida ao cuspir nos sapatos engraxados de um homem estranho que se intitula 'pai'. Desenrola-se com a garota que possui relacionamentos com uma semelhança suspeita, sempre em paralelo, aos relacionamentos de seu irmão Mauro. Até chegarmos à narradora do início com o rosto refletido em um retrovisor, buscando sentidos no oráculo pagão que é a internet.
Uma tentativa de explicação ao que é tão difícil de explicar, tendo como pano de fundo os principais acontecimentos brasileiros dos anos 90 a 2000. Que passa pelo plebiscito sobre a monarquia; pela moda de dançar lambada, enquanto muitos tinham as economias ceifadas pelo Plano Collor; pela morte de PC Farias; pelo pedido de impeachment de Celso Pitta; pelo racionamento de energia durante o governo de FHC; pela eleição do Lula; pelo advento da internet. A narrativa traz muito sobre o modo de viver da classe média na cidade de São Paulo: a formação escolar, os apartamentos, as festinhas, as aulas de inglês, a faculdade, os empregos de vendedora no shopping, de jornalista, de professora de história, os freelas, as incertezas do quê pensar, com quem dormir, onde morar.
Em uma prosa ligeira e deliciosa de ler, cheia de sutilezas e graças, Vera Saad Rossi coloca-nos no beco em que sempre estamos: como narrar nossas próprias verdades? As mais difíceis de serem assumidas? Em meio a dificuldades familiares, dissabores amorosos, perrengues financeiros diários?
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