"Acordo para a morte.
Barbeio-me, visto-me, calço-me.
É meu último dia: um dia
cortado de nenhum pressentimento.
Tudo funciona como sempre.
Saio para a rua. Vou morrer
[...]
A morte dispôs poltronas para o conforto
da espera. Aqui se encontram
os que vão morrer e não sabem.
Jornais, café, chicletes, algodão para o ouvido,
pequenos serviços cercam de delicadeza
nossos corpos amarrados.
Vamos morrer, já não é apenas
meu fim particular e limitado,
somos vinte a ser destruídos,
morreremos vinte,
vinte nos espatifaremos, é agora.
Ou quase. Primeiro a morte particular,
restrita, silenciosa, do indivíduo.
Morro secretamente e sem dor,
para viver apenas como pedaço de vinte,
e me incorporo todos os pedaços
dos que igualmente vão perecendo calados.
Somos um em vinte, ramalhete
de sopros robustos prestes a desfazer-se.
E pairamos,
frigidamente pairamos sobre os negócios
e os amores da região.
Ruas de brinquedo se desmancham,
luzes se abafam; apenas
colchão de nuvens, morros se dissolvem,
apenas
um tubo de frio roça meus ouvidos,
um tubo que se obtura, e dentro
da caixa iluminada e tépida vivemos
em conforto e solidão e calma e nada.
[...]
Ó brancura,serenidade sob a violência
da morte sem aviso prévio,
cautelosa,
não obstante, irreprimível aproximação de um perigo
[atmosférico
golpe vibrado no ar, lâmina de vento
no pescoço, raio
choque estrondo fulguração
rolamos pulverizados
caio verticalmente e me transformo em notícia."
Carlos Drummond de Andrade
[do gr. palímpsestos, 'raspado novamente', pelo lat. palimpsestu.]. S.m. 1. Antigo material de escrita, principalmente o pergaminho, usado, em razão de sua escassez ou alto preço, duas ou três vezes[duplo palimpsesto], mediante raspagem do texto anterior
"Querida, você tem um coração na garganta"
Minha avó
terça-feira, 24 de julho de 2007
sexta-feira, 20 de julho de 2007
Mãos em punho
Aconteceu. Um dia, acordou, sentou-se à mesa e perdeu a fé. Já não acreditava em nada. Tantas vezes, tentaram persuadi-la de que viver já era a vida, mas naquela manhã, desacreditou. Revirou os olhos ao seu esgarçar de sonhos, como que apática diante desta coisa que é acordar todos os dias. “Não se preocupem comigo, é que não acredito...”, disse, de pestanas coladas, mãos em punho, a esmurrar sua Fortuna (....)
quinta-feira, 19 de julho de 2007
quinta-feira, 12 de julho de 2007
As cartas não mentem jamais
quarta-feira, 11 de julho de 2007
Autobiografia - mais antiga que ....
"Do autor ao leitor
Eis aqui, leitor, um livro de boa-fé.
Adverte-o ele de início que só o escrevi para mim mesmo, e alguns íntimos, sem me preocupar com o interesse que poderia ter para ti, nem pensar na posteridade. Tão ambiciosos objetivos estão acima de minhas forças. Voltei-o em particular aos meus parentes e amigos e isso a fim de que, quando eu não for deste mundo (o que em breve acontecerá), possam nele encontrar alguns traços de meu caráter e de minhas idéias e assim conservem mais inteiro e vivo o conhecimento que de mim tiverem [...]
[...]E agora, que Deus o proteja. De Montaigne, em primeiro de março de 1580."
Eis aqui, leitor, um livro de boa-fé.
Adverte-o ele de início que só o escrevi para mim mesmo, e alguns íntimos, sem me preocupar com o interesse que poderia ter para ti, nem pensar na posteridade. Tão ambiciosos objetivos estão acima de minhas forças. Voltei-o em particular aos meus parentes e amigos e isso a fim de que, quando eu não for deste mundo (o que em breve acontecerá), possam nele encontrar alguns traços de meu caráter e de minhas idéias e assim conservem mais inteiro e vivo o conhecimento que de mim tiverem [...]
[...]E agora, que Deus o proteja. De Montaigne, em primeiro de março de 1580."
AULA - BARTHES
Mas a língua, como desempenho de toda linguagem, não é nem reacionária, nem progressista; ela é simplesmente fascista; pois o fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer. Ao passo que na literatura a língua é desviada e, conseqüentemente, se é permitido ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução permanente da linguagem.
quarta-feira, 4 de julho de 2007
segunda-feira, 2 de julho de 2007
PELA FLAP!
Mais especificamente pelo Bactéria, descobri um livro que me tirou o fôlego: Dona Estultícia de Gabriela Kimura.
PÓS FLAP!
Deixei o Satyros I, no domingo, com uma certeza: é necessário um diálogo urgente entre a academia e os escritores. Já está ultrapassado o velho discurso "ainda existe literatura?", claro que existe, a questão não é essa. O problema é outro, bem mais sério. A academia (salvo raras exceções) torce o nariz para aqueles que ainda não foram laureados com algum Jabuti da vida, ou que não receberam o aval da fortuna crítica (em outras palavras, que não estão mortos), e muitos escritores bons, que poderiam despertar o prazer pela leitura nos vários "não leitores", são desprezados.
Há que se considerar que dos professores engendrados pela academia, muitos correm o risco de queimar os livros a 451ºF em sala de aula ao apresentar clássicos, com o peso que a palavra "clássicos" carrega, por suas escolas demarcadadas por datas (romantismo, realismo, etc), para adolescentes que preferem o que a literatura oferece em sua essência: a transgressão.
Há que se considerar que dos professores engendrados pela academia, muitos correm o risco de queimar os livros a 451ºF em sala de aula ao apresentar clássicos, com o peso que a palavra "clássicos" carrega, por suas escolas demarcadadas por datas (romantismo, realismo, etc), para adolescentes que preferem o que a literatura oferece em sua essência: a transgressão.
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