Mais Telefone sem Fio - não resisti, precisava explicar o título (ou não, pois é um pouquinho mais...) -
" [...]Todos alinhados, um a um, Alma era a quarta da fila. Passavam a frase ouvido a ouvido, com o cuidado do ourives. Alma catou as palavras desajeitada. Por fim, sussurrou para o dentuço ao lado uma mentira. Alma sempre mentia no telefone sem fio. Trocava as palavras por outras de sua preferência. A brincadeira era simples. Uma criança inventava uma frase e a cochichava para o amigo do lado, que a passava para o outro, e assim, assim, assado, o último da fila repetia em voz alta o que acabara de ouvir, que geralmente era bem diferente da frase pensada pelo primeiro da fila. Mas, quando Alma estava na brincadeira, o falado era como que o oposto do inventado.
— Vou tomar sopa de pedra amanhã!
— Vixi, nada a ver.
— O que falou pra ele?
— Num ninho de mafagafos tinha cinco mafagafinhos.
— Putz Grilo! — soltou o dentuço.
Alma protegeu sua risada com uma fungada forte.
— Eca, Alma, que nojenta.
— Quer um pouco, né? Então lá vai, ranho pra você.— Alma finalmente riu.
— Eca! Tira pra lá essa mão. Vamos brincar de outra coisa?
— Pega-pega americano. Esse é o melhor.
— Cala a boca, você nem sabe jogar isso aí.
— É mesmo. Acho que inventou isso, e fica falando aí que é americano.
— Ó como sei falar americano: u ó tem som de u.
— Tenho que ir, minha mãe tá lá na frente. — inventou Alma, que somente brincava de telefone sem fio. Depois partia com suas mentiras e desculpas frágeis. [...]"
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