"Querida, você tem um coração na garganta"
Minha avó

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

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A criação deste blog foi movida por uma pergunta que ainda me persegue e me incomoda: há idéia (até 2012, com acento mesmo) 100 % original? e, por conseguinte, somos originais? O escritor é, sobretudo, leitor, (assim o espero). Daí a grande questão: até que ponto sua criação literária não sofre interferências e até que ponto é primeira e única? No diário que mantinha durante sua vida diplomática na Alemanha, Guimarães Rosa escrevia "100% original?" acima de alguns de seus pensamentos. Para Pierce, o pensamento é uma inferência, argumento este aliás suscitado por ele contra a tese cartesiana acerca da intuição. Nenhum pensamento nasce do nada, uma vez que o pensamento é infinito, sem começo ou fim, logo, a possibilidade da intuição, que justamente se engendra do nada, é nula. Porém, a ciência, a arte e a sociedade permaneceriam a mesma, sem a urdidura de algo original, e aqui me refiro à criação de novos conceitos, novas concepções artísticas, e invenções outras capazes de modificar peremptoriamente o olhar humano. Retomo Pierce e seu complexo conceito de abdução. Pierce nega a intuição, que surge do nada, porém, acredita no instinto, inerente ao ser vivo. Destarte, "a habilidade para fazer conjecturas é para o homem aquilo que o vôo (de novo, só 2012) e o canto são para os pássaros" (SANTAELLA, Lúcia. O método anticartesiano de C.S.Pierce. São Paulo: Editora Unesp, 2004. p.105). E a abdução (também o insight), tida por ele como uma inferência inconsciente, é uma espécie de julgamento de percepção, ou seja, um tipo de proposição que nos informa sobre aquilo que está sendo percebido. Há que se considerar os três elementos que envolvem a percepção: o percepto, que corresponde ao objeto da percepção, o percipium, ou o modo como o percepto, traduzido pelos nossos órgãos sensórios, é imediatamente interpretado no julgamento perceptório, que se refere ao terceiro elemento da percepção. Segundo Pierce, o julgamento de percepção é falível, mas indubitável, e apenas, sob este aspecto difere da inferencia abdutiva. Todavia, na sua formação, ambos são idênticos: são inferências inconscientes, fora do nosso controle (o que muito a aproxima da criação artística). Ainda mantenho minha dúvida, mais sofisticada à luz de Pierce, com algumas ressalvas, confesso, pois entendo intuição como algo relacionado à percepção e não ao pensamento primeiro [até porque provenho de uma família intuitiva, e tal fato é incontestável]. Mas, abro a discussão para quem mais quiser chegar. A roda está aberta.

8 comentários:

Anônimo disse...

Gostei! Creio que deveriamos saber a origem do pensamento para definirmos a originalidade , ie , caso soubessemos daonde vem o pensamento tudo seria mais facil [ ou não] ! Bejos

Vera Helena disse...

Exatamente! Essa é a grande questão!!! De novo me embaso em Pierce, que acredita que não somos donos de nossos pensamentos, mas o oposto, nós que pertencemos ao pensamento. Pense nisto.

Beijos

Ana Maria Saad disse...

sinto saudade, logo penso: quando encontrarei a verinha?

não consegui ainda colocar o simbolo do premio dardos, acredita?

bjoka

Vera Helena disse...

Alys, seu raciocínio cartesiano é original. Adorei. Ainda não conseguiu? E aquele que te enviei? Não deu certo? Salve o selo em seu computador, e quando postar sobre o selo vá à ferramenta imagem. Lá você escolhe a opção "do seu computador" e busca a imagem nos seus documentos ou onde o salvou.

Qualquer dúvida me avise,

Beijos

Anônimo disse...

Originalidade, origem, ponto inicial, gênese... POderíamos imaginar o pensamento como a luz que viaja a uma velocidade insuperável até então. A luz tem começo e fim? Sabemos que é veloz, que é energia que se desloca e reflete ou é absorvida gerando cores e energia térmica. A velocidade dos objetos em relação à luz foi tida comor elativa, ela é o ponto zero, ninguém consegue acompanhá-la, portanto infinita.
Origem do pensamento? que tal origem da linguagem? que tal origem do universo? Origem da origem? Alguém disse Haja luz???

Melhor não tentarmos achar respostas para o que está acima de nossa compreensão, vivamos e usemos nossa criatividade mestiça com o velho. A mestiçagem das idéias talvez gere novos fenótipos com o mesmo genótipo.

Não quero ainda ficar louco!

Um beijo e parabéns pelo post incrível e perturbador...

Victor Hugo

Vera Helena disse...

Olá, Victor
Seria origem o mito?
Caramba, precisamos retomar nossa conversa de quinta. Muito interessante ( e também perturbador) seu ponto de vista.

Abraços,

Vera

Anônimo disse...

Não sei se o mito é a origem, pelo menos é original!
Os arquétipos não foram criados, mas descobertos no interior de nossas mentes. Somos seres biológicos também e temos certos genótipos específicos, temos tendências e condicionamentos para cada região, lugar, língua e instintos de sobrevivência. Mesmo sendo um estudo antroplógico, pode-se provar que alguns povos não foram superiores apenas intelectualmente, porém desenvolveram-se em todos os aspectos inerentes a espécie animal humana. Darwin e Lamarck estão presentes em todos os momentos na esfera biológica que transformou ou evolui o homo sapiens.
Enfim, As "idéias originais" surgiram após combinações indissociáveis da psicologia, antropologia, biologia, sociologia e cultura de cada povo ou região. Somos tudo aquilo que pertencemos ou fazemos parte!

Parabéns novamente pelo Post.
Eu perturbador? Não considere muito o que digo, eu não consideraria, rs...

Abraço,
Victor Hugo

Vera Helena disse...

Vitinho,

Considero sim o que diz, caso contrário, não prolongaria nossas conversas reais e virtuais.

Abs,

Vera