[do gr. palímpsestos, 'raspado novamente', pelo lat. palimpsestu.]. S.m. 1. Antigo material de escrita, principalmente o pergaminho, usado, em razão de sua escassez ou alto preço, duas ou três vezes[duplo palimpsesto], mediante raspagem do texto anterior
"Querida, você tem um coração na garganta"
Minha avó
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
sábado, 27 de dezembro de 2008
Malabarismos do cotidiano
ODE À ALEGUIA - Ana, sobrinha de um grande amigo meu - Ana tem 2 anos (nessas horas é oportuna a língua inglesa, que adjetiva a idade: algo do tipo 2-ano-de-idade-sobrinha) - nos ensinou, a nós adultos automatizados e cheios de verdades, o que é filosofar. Pequena, mas de uns olhos grandes e sabidos, desconcertou a cozinha daquela arejada casa com vista pro paraíso com uma pergunta um tanto metafísica: "Shabina, o que é aleguia?" A namorada do meu amigo, Sabrina, ciente da ausência de respostas a algo tão intangível quanto um sentimento sem portas ou janelas, se agarrou no significante: "Ora, Ana, alegria é alegria". Esperta, Ana arregalou ainda mais os olhos plenos de mundos e concluiu: "Eu tenho medo da aleguia!".
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Prêmio Dardos
Meu blog foi indicado pelas três panteras do 3x30 para receber o Prêmio Dardos. Copiei do site delas que copiaram do outro site a bula do prêmio:
Informações ao usuário:
"Com o Prêmio Dardos se reconhece os valores que cada blogueiro mostra cada dia em seu empenho por transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais etc., que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras."
Modo de usar:
"O prêmio possui três regras:
1- aceitar exibir a imagem.
2- Linkar o blog do qual recebeu o prêmio.
3- Escolher 15 blogs para entregar o Prêmio Dardos"
Contra-indicações: O Prêmio é contra-indicado em pessoas ansiosas e excessivas que acreditam que 15 blogs é pouco, muito pouco. (As contra-indicações inventei agora, porque sou ansiosa e excessiva e o efeito colateral é grave!)
Como não quero cometer injustiças em dia demasiado natalino, deixarei pra depois minhas indicações.
A propósito:
FELIZ NATAL A TODOS!
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Ainda terminarei este conto ou alguém se habilita?
Não consigo terminar este conto. Quem quiser terminá-lo por mim (os 3 leitores deste blog, minha mãe, meu pai e você) ficarei feliz. (hUMMM, Lú, Anônimo, Andrea, Alyson, Douglas, Vitinho?) Também está sem título, pensei no título do concurso que ganhei do Sesc há muito tempo (melhor nem mencionar há quanto tempo, constrangedor, uma dica, é anterior ao livro O Homem que odiava as segundas-feiras): O Homem que amava terça-feira, do Ignácio de Loyola Brandão (conto dele que continuei e ganhei e conheci o escritor mais gentil que se sabe por escritor - ele me disse que eu não tenho medo do absurdo. E vos digo basta estar vivo para não temê-lo). Lá vai o começo do meu conto e fica aqui o desafio:
CONTÃO SEM TÍTULO
Estava me sentindo bem naquela manhã. Uma espécie de alegria sincrônica, um rombo no peito simultâneo ao que me dessem como garantia de vida. Certa música que ouvisse antes de ligar o rádio, de fato. Uma frase dita antes que alguém pensasse em abrir a boca. Uma ligação importante concomitante (odeio esta palavra!) ao meu desejo de ser importante. “Não pode ser tão perfeito!”, pensei. Não estava acostumada a qualquer felicidade isenta de esforço. Sempre desconfio da alegria espontânea.
Tranquei meu quarto, já inclinada à bondade. Aproveitei meu café da manhã com a boca mais doce, receptiva, distraída ante uma felicidade por se roubar. Mastiguei macio o pão amanhecido, mergulhado no café frio. Rumo à loja onde trabalho, larguei-me no confortável movimento de minhas pernas. Que sensação, por Deus!
Os rostos cansados bocejavam duvidosos, qualquer esboço de felicidade era incompatível com um metrô abarrotado de desilusão. Encaravam-me solitários e céticos. Estiquei meu sorriso, como uma afronta. Sabia que não iria durar, pois mantenho um constante vinco preocupado entre as sobrancelhas, a fazer do sorriso um movimento antinatural dos lábios. Mas desafiei minha natureza, naquela manhã, e permaneci sorridente.
CONTÃO SEM TÍTULO
Estava me sentindo bem naquela manhã. Uma espécie de alegria sincrônica, um rombo no peito simultâneo ao que me dessem como garantia de vida. Certa música que ouvisse antes de ligar o rádio, de fato. Uma frase dita antes que alguém pensasse em abrir a boca. Uma ligação importante concomitante (odeio esta palavra!) ao meu desejo de ser importante. “Não pode ser tão perfeito!”, pensei. Não estava acostumada a qualquer felicidade isenta de esforço. Sempre desconfio da alegria espontânea.
Tranquei meu quarto, já inclinada à bondade. Aproveitei meu café da manhã com a boca mais doce, receptiva, distraída ante uma felicidade por se roubar. Mastiguei macio o pão amanhecido, mergulhado no café frio. Rumo à loja onde trabalho, larguei-me no confortável movimento de minhas pernas. Que sensação, por Deus!
Os rostos cansados bocejavam duvidosos, qualquer esboço de felicidade era incompatível com um metrô abarrotado de desilusão. Encaravam-me solitários e céticos. Estiquei meu sorriso, como uma afronta. Sabia que não iria durar, pois mantenho um constante vinco preocupado entre as sobrancelhas, a fazer do sorriso um movimento antinatural dos lábios. Mas desafiei minha natureza, naquela manhã, e permaneci sorridente.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Península Ibérica
domingo, 23 de novembro de 2008
Eu e você qualquer dia
Um dia você me disse que todos temos data de validade. Eu e você, um dia expiraremos, a soltarmos um ar cansado que nos esgota, acuados pelo fim que se exibe vermelho em algum canto de seus olhos. Enquanto eu de mãos fechadas me disfarço com algo de invisível que foge entre os dedos. Sejamos menos realistas, meu amor. Dói menos. Já bastam minhas olheiras, um bônus pelo excesso de realidade refletido no vidro da janela. Se soubesse que ainda você que me salva desta rotina enjoativa despertada com o relógio do criado-mudo. Se soubesse que ainda você que me desperta alguma esperança de que algo melhor está por vir. De que um dia seremos mais felizes. E quando chegar nosso fim, até lá, descobriremos outras formas de vivermos o nosso tempo juntos. Ainda que por apenas um dia. Seremos um tanto melhores, meu amor.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
pelo dia de hoje
"[...]
Quando se aproximavam da cidade, encontraram um negro caído no chão, não tendo mais que metade do vestuário, isto é, umas calças de pano azul; faltava àquele pobre homem a perna esquerda e a mão direita.
— Meu Deus! — lhe disse Cândido em holandês. — Que fazes aí, meu amigo, no horrível estado em que te vejo?
— Espero meu patrão, o famoso negociante Senhor Vanderdendur.
— E foi o Senhor Vanderdendur quem te deixou nesse estado?
— Sim, é o costume — disse o negro. — Por todo vestuário, dão-nos umas calças duas vezes por ano. Quando trabalhamos nas usinas de açúcar e o rebolo nos apanha o dedo, cortam-nos a mão; quando tentamos fugir, cortam-nos a perna: incorri em ambos os casos. É por esse preço que os Senhores comem açúcar na Europa. [...]"
CÂNDIDO - Voltaire - 1759
"[...]O trem parara e eu abstinha-me de saltar. Uma vez, porém, o fiz; não sei mesmo em que estação. Tive fome e dirigi-me ao pequeno balcão onde havia café e bolos. Encontravam-se lá muitos passageiros. Servi-me e dei uma pequena nota para pagar. Como se demorassem em trazer-me o troco reclamei: "Oh! fez o caxeiro indignado e em tom desabrido. Que pressa tem você?! Aqui não se rouba, fique sabendo?" Ao mesmo tempo ao meu lado, um rapazola alourado, reclamava o dele, que lhe foi prazenteiramente entregue. O contraste feriu-me, e com os olhares que os presentes me lançaram, mais cresceu a minha indignação. Curti durante segundos, uma raiva muda, e por pouco ela não rebentou em pranto. [...]"
RECORDAÇÕES DO ESCRIVÃO ISAÍAS CAMINHA - Lima Barreto - 1909
"Procurei no terreiro
Os Santos D'África
E não encontrei,
Só vi santos brancos
Me admirei ...
Que fizeste dos teus santos
Dos teus santos pretinhos?
Ao negro perguntei.
Ele me respondeu:
Meus pretinhos se acabaram,
Agora,
Oxum, Iemanjá, Ogum,
É São Jorge,
São João
E Nossa Senhora da Conceição.
Basta Negro!
Basta de deformação!"
DEFORMAÇÃO - Solano Trindade (1908-1974)
"Enquanto Zumbi trabalha cortando cana na zona da mata pernambucana Olorô-Quê vende carne de segunda a segunda ninguém vive aqui com a bunda preta pra cima tá me ouvindo bem?
Enquanto a gente dança no bico da garrafinha Odê trabalha de segurança pega ladrão que não respeita quem ganha o pão que o Tição amassou honestamente enquanto Obatalá faz serviço pra muita gente que não levanta um saco de cimento tá me ouvindo bem?
Enquanto Olorum trabalha como cobrador de ônibus naquele transe infernal de trânsito Ossonhe sonha com um novo amor pra ganhar 1 passe ou 2 na praça turbulenta do Pelô fazer sexo oral anal seja lá com que for tá me ouvindo bem?
[..]
Ninguém aqui é escravo de ninguém."
CONTOS NEGREIROS - Marcelino Freire - 2005
HOJE DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Quando se aproximavam da cidade, encontraram um negro caído no chão, não tendo mais que metade do vestuário, isto é, umas calças de pano azul; faltava àquele pobre homem a perna esquerda e a mão direita.
— Meu Deus! — lhe disse Cândido em holandês. — Que fazes aí, meu amigo, no horrível estado em que te vejo?
— Espero meu patrão, o famoso negociante Senhor Vanderdendur.
— E foi o Senhor Vanderdendur quem te deixou nesse estado?
— Sim, é o costume — disse o negro. — Por todo vestuário, dão-nos umas calças duas vezes por ano. Quando trabalhamos nas usinas de açúcar e o rebolo nos apanha o dedo, cortam-nos a mão; quando tentamos fugir, cortam-nos a perna: incorri em ambos os casos. É por esse preço que os Senhores comem açúcar na Europa. [...]"
CÂNDIDO - Voltaire - 1759
"[...]O trem parara e eu abstinha-me de saltar. Uma vez, porém, o fiz; não sei mesmo em que estação. Tive fome e dirigi-me ao pequeno balcão onde havia café e bolos. Encontravam-se lá muitos passageiros. Servi-me e dei uma pequena nota para pagar. Como se demorassem em trazer-me o troco reclamei: "Oh! fez o caxeiro indignado e em tom desabrido. Que pressa tem você?! Aqui não se rouba, fique sabendo?" Ao mesmo tempo ao meu lado, um rapazola alourado, reclamava o dele, que lhe foi prazenteiramente entregue. O contraste feriu-me, e com os olhares que os presentes me lançaram, mais cresceu a minha indignação. Curti durante segundos, uma raiva muda, e por pouco ela não rebentou em pranto. [...]"
RECORDAÇÕES DO ESCRIVÃO ISAÍAS CAMINHA - Lima Barreto - 1909
"Procurei no terreiro
Os Santos D'África
E não encontrei,
Só vi santos brancos
Me admirei ...
Que fizeste dos teus santos
Dos teus santos pretinhos?
Ao negro perguntei.
Ele me respondeu:
Meus pretinhos se acabaram,
Agora,
Oxum, Iemanjá, Ogum,
É São Jorge,
São João
E Nossa Senhora da Conceição.
Basta Negro!
Basta de deformação!"
DEFORMAÇÃO - Solano Trindade (1908-1974)
"Enquanto Zumbi trabalha cortando cana na zona da mata pernambucana Olorô-Quê vende carne de segunda a segunda ninguém vive aqui com a bunda preta pra cima tá me ouvindo bem?
Enquanto a gente dança no bico da garrafinha Odê trabalha de segurança pega ladrão que não respeita quem ganha o pão que o Tição amassou honestamente enquanto Obatalá faz serviço pra muita gente que não levanta um saco de cimento tá me ouvindo bem?
Enquanto Olorum trabalha como cobrador de ônibus naquele transe infernal de trânsito Ossonhe sonha com um novo amor pra ganhar 1 passe ou 2 na praça turbulenta do Pelô fazer sexo oral anal seja lá com que for tá me ouvindo bem?
[..]
Ninguém aqui é escravo de ninguém."
CONTOS NEGREIROS - Marcelino Freire - 2005
HOJE DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
sábado, 15 de novembro de 2008
Estamos todos bem
"Clara tinha compaixão. Por compaixão, insistia no olhar esgarçado do outro. Queria lamber a ferida com sua própria dor, oferecer-se de corpo em pêlo aos crucificados do calvário, coroar com espinhos sua delicada testa e sofrer como sofriam os filhos abandonados e maltrapilhos de nossa Mãe Gentil. Mas era malograda qualquer tentativa em estender o braço aos que têm fome, pois que nunca entenderia a real fome daqueles que têm fome. Restava-lhe sofrer o que acreditava como sofrimento pelos penados e esquecidos de nossa Pátria Amada, nosso verdadeiro produto interno bruto, tão barato quanto a cana-de-açúcar colonial. Assim Clara sofria, e, assim, aliviava-se na dor do outro."
fev. de 2007
Um pouco do meu "Estamos todos bem", estava com saudades dele e da Eufrosina.
fev. de 2007
Um pouco do meu "Estamos todos bem", estava com saudades dele e da Eufrosina.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
À minha mãe
Era pra ser ontem, aniversário seu, felicidade minha, mas somente hoje encontrei palavras acertadas e bonitas como ela, a quase tocarem o quanto e tanto de amor meu. Breves poemas e haikais, pois que do que não está escrito, sua infinitude, minha mãe:
Manhã de frio --
Com o agasalho, visto
Saudades de minha mãe.
Paulo Franchetti
A única rosa
Todas as rosas são a mesma rosa,
Amor, a única rosa.
E tudo está contido nela,
Breve imagem do mundo,
Amor! a única rosa
Manuel Bandeira
Amor bastante
quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante
basta um instante
e você tem amor bastante
Paulo Leminski
Manhã de frio --
Com o agasalho, visto
Saudades de minha mãe.
Paulo Franchetti
A única rosa
Todas as rosas são a mesma rosa,
Amor, a única rosa.
E tudo está contido nela,
Breve imagem do mundo,
Amor! a única rosa
Manuel Bandeira
Amor bastante
quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante
basta um instante
e você tem amor bastante
Paulo Leminski
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Mudei pela terceira vez
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
"Eu tenho horror ao real" *
*Rubens Francisco Lucchetti em entrevista à encantadora Jerusa Pires Ferreira (Rubens Francisco Lucchetti - o homem de 1000 livros. São Paulo: COM-ARTE, 2008)
Ocorre que escolhi esta frase para iniciar um breve ensaio sobre o encontro entre Jorge Melícias, Ana Paula Maia e Fernando Segolin no Seminário Literatura e Violência. No discurso de Melícias sobre o grotesco e posteriormente na fala de Ana Paula Maia, um aspecto curioso me chamou a atenção: a evocação do tema O Estranho do Freud. Prefiro a palavra no sentido original: unheimlich, pois amplia as possibilidades de análise. A princípio se falou do grotesco, entretanto, chegar ao conceito do horror foi inevitável.
Freud já analisou o tema do estranho, unheimlich, inquestionavelmente associado ao que é assustador, que provoca medo e horror, no texto Das Unheimliche (O Estranho). Neste, em um primeiro momento, é realizado um estudo etimológico da palavra alemã, porquanto a complexidade de sua estrutura, uma vez que abriga o vocábulo “casa” (Heim) em sua raiz. Por intermédio de vários e diferentes significados, o autor nos mostra que em algum momento a palavra unheimlich, estranho, tem o mesmo sentido que seu contrário, ou seja, heimlich, familiar. Por conseguinte, conclui, à luz da sentença de Schelling, “unheimlich é o nome de tudo que deveria ter permanecido ... secreto e oculto mas veio à luz”, que unheimlich (o estranho) é de um modo ou de outro uma subespécie de heimlich (familiar).
Oscar Cesarotto explora o estranho (unheimlich) como aquilo que, familiar e íntimo, estava apagado e é reativado por um fato extrínseco, para ser projetado como alheio. Segundo ele, o efeito concomitante é “a sensação sinistra que se produz ao se esfacelar a realidade, porque nessa hora, qualquer resguardo revela-se insuficiente.”
Ao que me remeto ao interessante comentário tecido por Stephen Dedalus, o artista jovem de James Joyce, sobre o terror, um dos sentimentos catárticos da Arte Poética de Aristóteles: “o terror é o sentimento que detém o espírito na presença de seja lá o que for que seja grave e constante no sofrimento humano e o liga à sua causa secreta.” Daí concluo que o horror ao real de Lucchetti é também uma catarse.
Posto isto, retomo uma das questões levantadas pela platéia sobre a diferença entre a violência dita "banalizada" e a violência discutida e presente nos textos dos dois escritores. Conheço o trabalho de Ana Paula Maia, do qual gosto muito, e posso afirmar seguramente que diferentemente da violência (não diria "banalizada") artificial, estereotipada, a violência presente nos textos da escritora suscita o terror catártico descrito por Dedalus, e me liga a minha causa secreta, ao que me é tão estranho e ao mesmo tempo tão familiar.
PS: 1) Pra variar, fiquei vermelho-escuro quando Ana Paula Maia falou do meu e-mail, mas não deixei de sorrir, e me acusei: fui eu a danada!
2) creio que unheimlich é um adjetivo, por isso mantive em letra minúscula, se estiver errada sintam-se à vontade em me corrigir
Ocorre que escolhi esta frase para iniciar um breve ensaio sobre o encontro entre Jorge Melícias, Ana Paula Maia e Fernando Segolin no Seminário Literatura e Violência. No discurso de Melícias sobre o grotesco e posteriormente na fala de Ana Paula Maia, um aspecto curioso me chamou a atenção: a evocação do tema O Estranho do Freud. Prefiro a palavra no sentido original: unheimlich, pois amplia as possibilidades de análise. A princípio se falou do grotesco, entretanto, chegar ao conceito do horror foi inevitável.
Freud já analisou o tema do estranho, unheimlich, inquestionavelmente associado ao que é assustador, que provoca medo e horror, no texto Das Unheimliche (O Estranho). Neste, em um primeiro momento, é realizado um estudo etimológico da palavra alemã, porquanto a complexidade de sua estrutura, uma vez que abriga o vocábulo “casa” (Heim) em sua raiz. Por intermédio de vários e diferentes significados, o autor nos mostra que em algum momento a palavra unheimlich, estranho, tem o mesmo sentido que seu contrário, ou seja, heimlich, familiar. Por conseguinte, conclui, à luz da sentença de Schelling, “unheimlich é o nome de tudo que deveria ter permanecido ... secreto e oculto mas veio à luz”, que unheimlich (o estranho) é de um modo ou de outro uma subespécie de heimlich (familiar).
Oscar Cesarotto explora o estranho (unheimlich) como aquilo que, familiar e íntimo, estava apagado e é reativado por um fato extrínseco, para ser projetado como alheio. Segundo ele, o efeito concomitante é “a sensação sinistra que se produz ao se esfacelar a realidade, porque nessa hora, qualquer resguardo revela-se insuficiente.”
Ao que me remeto ao interessante comentário tecido por Stephen Dedalus, o artista jovem de James Joyce, sobre o terror, um dos sentimentos catárticos da Arte Poética de Aristóteles: “o terror é o sentimento que detém o espírito na presença de seja lá o que for que seja grave e constante no sofrimento humano e o liga à sua causa secreta.” Daí concluo que o horror ao real de Lucchetti é também uma catarse.
Posto isto, retomo uma das questões levantadas pela platéia sobre a diferença entre a violência dita "banalizada" e a violência discutida e presente nos textos dos dois escritores. Conheço o trabalho de Ana Paula Maia, do qual gosto muito, e posso afirmar seguramente que diferentemente da violência (não diria "banalizada") artificial, estereotipada, a violência presente nos textos da escritora suscita o terror catártico descrito por Dedalus, e me liga a minha causa secreta, ao que me é tão estranho e ao mesmo tempo tão familiar.
PS: 1) Pra variar, fiquei vermelho-escuro quando Ana Paula Maia falou do meu e-mail, mas não deixei de sorrir, e me acusei: fui eu a danada!
2) creio que unheimlich é um adjetivo, por isso mantive em letra minúscula, se estiver errada sintam-se à vontade em me corrigir
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Eita Deus!!!
Hoje ocorre a audiencia publica na camara municipal de sao paulo as 10 horas.
PS O teclado nao esta acentuado corretamente
Mais detalhes no blog Eu sei o que voce fez no mandato passado
PS O teclado nao esta acentuado corretamente
Mais detalhes no blog Eu sei o que voce fez no mandato passado
domingo, 2 de novembro de 2008
Agora no presente
Vivo informa - este número de telefone não existe!
Telefone sem fio - última chamada. terminarei no verão que agora naum vai dar não. Preciso entregar o primeiro capítulo da tese até dezembro (pelo menos trinta páginas). Mas a história é mais ou menos essa, se passa durante uma viagem de carro, destino a um enterro. Durante a viagem, Alma passará sua vida a limpo, no caderninho de anotações, com várias canetinhas bic coloridas. Quando escreve, sempre se refere a si mesma na terceira pessoa, e a cada vez que se lembra de um mesmo fato, ela o modifica. Enfim, um ensaio sobre a verossimilhança, para quem gosta de termos mais chatos!
PS: não sei se fiz bem em contar a idéia antes de terminar o livro, mas enfim, minha idéia não é só isso, e pelo que vi no Cronópios,(o que, a propósito, lembra-me as minhas raspadinhas) a questão do plágio é um pouquinho mais complicada. Por via das dúvidas, registrei meu blog também!
Telefone sem fio - última chamada. terminarei no verão que agora naum vai dar não. Preciso entregar o primeiro capítulo da tese até dezembro (pelo menos trinta páginas). Mas a história é mais ou menos essa, se passa durante uma viagem de carro, destino a um enterro. Durante a viagem, Alma passará sua vida a limpo, no caderninho de anotações, com várias canetinhas bic coloridas. Quando escreve, sempre se refere a si mesma na terceira pessoa, e a cada vez que se lembra de um mesmo fato, ela o modifica. Enfim, um ensaio sobre a verossimilhança, para quem gosta de termos mais chatos!
PS: não sei se fiz bem em contar a idéia antes de terminar o livro, mas enfim, minha idéia não é só isso, e pelo que vi no Cronópios,(o que, a propósito, lembra-me as minhas raspadinhas) a questão do plágio é um pouquinho mais complicada. Por via das dúvidas, registrei meu blog também!
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Do Manual de Redação
"Quando a coisa era feia, Graciliano Ramos alisava o cabelo e xingava: 'Cavalo!'. O temido e admirado revisor do Correio da Manhã odiava palavras e expressões empoladas perdidas no meio do texto, e rugia para o autor do outro lado da redação: 'Outrossim é a puta que o pariu!'[...]" Cristiane Costa - Pena de Aluguel
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Axiomas - Millôr Fernandes
"Não seja pessimista! O Brasil tem grandes homens: os pósteros e os precedentes" Millôr Fernandes
- Uma imagem vale mais do que mil palavras "- Diga isto sem palavras." Millôr Fernandes
"A diferença entre o político e o ladrão é que um eu escolho, o outro me escolhe" Fábio Viltrakis - teleitor de Millôr Fernandes
- Uma imagem vale mais do que mil palavras "- Diga isto sem palavras." Millôr Fernandes
"A diferença entre o político e o ladrão é que um eu escolho, o outro me escolhe" Fábio Viltrakis - teleitor de Millôr Fernandes
Do meu ORIXÁ
Ilustração: Ogum por Carybé
OGUM
De Zeca Pagodinho e Joge Ben
Eu sou descendente zulu
Sou um soldado de ogum
Um devoto dessa imensa legião de Jorge
Eu sincretizado na fé
Sou carregado de axé
E protegido por um cavaleiro nobre
Sim vou à igreja festejar meu protetor
E agradecer por eu ser mais um vencedor
Nas lutas nas batalhas
Sim vou ao terreiro pra bater o meu tambor
Bato cabeça firmo ponto sim senhor
Eu canto pra ogum
Ogum
Um guerreiro valente que cuida da gente que sofre demais
Ogum
Ele vem de Aruanda ele vence demanda de gente que faz
Ogum
Cavaleiro do céu escudeiro fiel mensageiro da paz
Ogum
Ele nunca balança ele pega na lança ele mata o dragão
Ogum
É quem dá confiança pra uma criança virar um leão
Ogum
É um mar de esperança que traz bonança pro meu coração
Deus adiante paz e guia
Encomendo-me a Deus e a virgem Maria minha mãe ..
Os doze apóstolos meus irmãos
Andarei nesse dia nessa noite
Com meu corpo cercado vigiado e protegido
Pelas armas de são Jorge
São Jorge sentou praça na cavalaria
Eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem
Tenham mãos e não me peguem não me toquem
Tenham olhos e não me enxerguem
E nem mesmo o pensamento eles possam ter para me fazerem mal
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão
Facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar
Cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Jorge é da Capadócia.
Salve Jorge!
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Ana Rüsche e CBN
Rapidão:
Não era sem tempo, a Ana Rusche, uma das minhas poetas contemporâneas favoritas (ela e Andrea de Barros), criou uma espécie de anti-blog - Pirata de Aquário. Lá os posts são coletivos, e você pode modificá-los.
A CBN também está com uma campanha genial. Chama-se Adote um veredor. Você adota um dos 55 vereadores eleitos, e a partir de primeiro de janeiro toma conta deste. Eu, por minha parte, já adotei a minha, Mara Gabrilli. Motivo, apesar de vangloriada pela mídia, uns projetos recentes seus sao no mínimo esdrúxulos. P. ex. Título de cidadã paulistana à cantora Daniela Mercury. Crei um blog para deixar os leitores a par do trabalho da vereadora - Eu sei o que você fez no mandato passado. O link está ao lado na lista de links do blog.
E isto
Não era sem tempo, a Ana Rusche, uma das minhas poetas contemporâneas favoritas (ela e Andrea de Barros), criou uma espécie de anti-blog - Pirata de Aquário. Lá os posts são coletivos, e você pode modificá-los.
A CBN também está com uma campanha genial. Chama-se Adote um veredor. Você adota um dos 55 vereadores eleitos, e a partir de primeiro de janeiro toma conta deste. Eu, por minha parte, já adotei a minha, Mara Gabrilli. Motivo, apesar de vangloriada pela mídia, uns projetos recentes seus sao no mínimo esdrúxulos. P. ex. Título de cidadã paulistana à cantora Daniela Mercury. Crei um blog para deixar os leitores a par do trabalho da vereadora - Eu sei o que você fez no mandato passado. O link está ao lado na lista de links do blog.
E isto
sábado, 4 de outubro de 2008
Axioma
É triste concordar com Balzac mas tenho que admitir: o crítico é movido sobretudo pela própria ausência de talento.
terça-feira, 30 de setembro de 2008
Aviso aos navegantes
Apaguei o ultimo post (alguem acreditaria que foi sem querer..) mas recebi sim os comentarios de Hugo e de Alyson Daas. Muito obrigada Alyson, logo logo posto mais Alma. E Hugo, o pior e que acho que voce sabe de que quem falo. Beijos a todos
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Feliz Aniversário
Este é para meu pai, que faz aniversário hoje. Um poema de Sylvia Plath, que, apesar de ter perdido seu pai ainda menina (9 anos), o amou por toda sua vida curta, qual amo o meu, por toda minha vida elástica, com uma única e crucial diferença - para minha felicidade (mais do que mereço) - estamos todos vivos, em carne, osso, coração e cobertor, e meu amor, apesar de grande, não mata.
Electra On Azalea Path - Sylvia Plath
The day you died I went into the dirt,
Into the lightless hibernaculum
Where bees, striped black and gold, sleep out the blizzard
Like hieratic stones, and the ground is hard.
It was good for twenty years, that wintering --
As if you never existed, as if I came
God-fathered into the world from my mother's belly:
Her wide bed wore the stain of divinity.
I had nothing to do with guilt or anything
When I wormed back under my mother's heart.
Small as a doll in my dress of innocence
I lay dreaming your epic, image by image.
Nobody died or withered on that stage.
Everything took place in a durable whiteness.
The day I woke, I woke on Churchyard Hill.
I found your name, I found your bones and all
Enlisted in a cramped necropolis
your speckled stone skewed by an iron fence.
In this charity ward, this poorhouse, where the dead
Crowd foot to foot, head to head, no flower
Breaks the soil. This is Azalea path.
A field of burdock opens to the south.
Six feet of yellow gravel cover you.
The artificial red sage does not stir
In the basket of plastic evergreens they put
At the headstone next to yours, nor does it rot,
Although the rains dissolve a bloody dye:
The ersatz petals drip, and they drip red.
Another kind of redness bothers me:
The day your slack sail drank my sister's breath
The flat sea purpled like that evil cloth
My mother unrolled at your last homecoming.
I borrow the silts of an old tragedy.
The truth is, one late October, at my birth-cry
A scorpion stung its head, an ill-starred thing;
My mother dreamed you face down in the sea.
The stony actors poise and pause for breath.
I brought my love to bear, and then you died.
It was the gangrene ate you to the bone
My mother said: you died like any man.
How shall I age into that state of mind?
I am the ghost of an infamous suicide,
My own blue razor rusting at my throat.
O pardon the one who knocks for pardon at
Your gate, father -- your hound-bitch, daughter, friend.
It was my love that did us both to death.
Electra On Azalea Path - Sylvia Plath
The day you died I went into the dirt,
Into the lightless hibernaculum
Where bees, striped black and gold, sleep out the blizzard
Like hieratic stones, and the ground is hard.
It was good for twenty years, that wintering --
As if you never existed, as if I came
God-fathered into the world from my mother's belly:
Her wide bed wore the stain of divinity.
I had nothing to do with guilt or anything
When I wormed back under my mother's heart.
Small as a doll in my dress of innocence
I lay dreaming your epic, image by image.
Nobody died or withered on that stage.
Everything took place in a durable whiteness.
The day I woke, I woke on Churchyard Hill.
I found your name, I found your bones and all
Enlisted in a cramped necropolis
your speckled stone skewed by an iron fence.
In this charity ward, this poorhouse, where the dead
Crowd foot to foot, head to head, no flower
Breaks the soil. This is Azalea path.
A field of burdock opens to the south.
Six feet of yellow gravel cover you.
The artificial red sage does not stir
In the basket of plastic evergreens they put
At the headstone next to yours, nor does it rot,
Although the rains dissolve a bloody dye:
The ersatz petals drip, and they drip red.
Another kind of redness bothers me:
The day your slack sail drank my sister's breath
The flat sea purpled like that evil cloth
My mother unrolled at your last homecoming.
I borrow the silts of an old tragedy.
The truth is, one late October, at my birth-cry
A scorpion stung its head, an ill-starred thing;
My mother dreamed you face down in the sea.
The stony actors poise and pause for breath.
I brought my love to bear, and then you died.
It was the gangrene ate you to the bone
My mother said: you died like any man.
How shall I age into that state of mind?
I am the ghost of an infamous suicide,
My own blue razor rusting at my throat.
O pardon the one who knocks for pardon at
Your gate, father -- your hound-bitch, daughter, friend.
It was my love that did us both to death.
Brincadeira de criança (será?)
Mais Telefone sem Fio - não resisti, precisava explicar o título (ou não, pois é um pouquinho mais...) -
" [...]Todos alinhados, um a um, Alma era a quarta da fila. Passavam a frase ouvido a ouvido, com o cuidado do ourives. Alma catou as palavras desajeitada. Por fim, sussurrou para o dentuço ao lado uma mentira. Alma sempre mentia no telefone sem fio. Trocava as palavras por outras de sua preferência. A brincadeira era simples. Uma criança inventava uma frase e a cochichava para o amigo do lado, que a passava para o outro, e assim, assim, assado, o último da fila repetia em voz alta o que acabara de ouvir, que geralmente era bem diferente da frase pensada pelo primeiro da fila. Mas, quando Alma estava na brincadeira, o falado era como que o oposto do inventado.
— Vou tomar sopa de pedra amanhã!
— Vixi, nada a ver.
— O que falou pra ele?
— Num ninho de mafagafos tinha cinco mafagafinhos.
— Putz Grilo! — soltou o dentuço.
Alma protegeu sua risada com uma fungada forte.
— Eca, Alma, que nojenta.
— Quer um pouco, né? Então lá vai, ranho pra você.— Alma finalmente riu.
— Eca! Tira pra lá essa mão. Vamos brincar de outra coisa?
— Pega-pega americano. Esse é o melhor.
— Cala a boca, você nem sabe jogar isso aí.
— É mesmo. Acho que inventou isso, e fica falando aí que é americano.
— Ó como sei falar americano: u ó tem som de u.
— Tenho que ir, minha mãe tá lá na frente. — inventou Alma, que somente brincava de telefone sem fio. Depois partia com suas mentiras e desculpas frágeis. [...]"
Todos os direitos reservados
" [...]Todos alinhados, um a um, Alma era a quarta da fila. Passavam a frase ouvido a ouvido, com o cuidado do ourives. Alma catou as palavras desajeitada. Por fim, sussurrou para o dentuço ao lado uma mentira. Alma sempre mentia no telefone sem fio. Trocava as palavras por outras de sua preferência. A brincadeira era simples. Uma criança inventava uma frase e a cochichava para o amigo do lado, que a passava para o outro, e assim, assim, assado, o último da fila repetia em voz alta o que acabara de ouvir, que geralmente era bem diferente da frase pensada pelo primeiro da fila. Mas, quando Alma estava na brincadeira, o falado era como que o oposto do inventado.
— Vou tomar sopa de pedra amanhã!
— Vixi, nada a ver.
— O que falou pra ele?
— Num ninho de mafagafos tinha cinco mafagafinhos.
— Putz Grilo! — soltou o dentuço.
Alma protegeu sua risada com uma fungada forte.
— Eca, Alma, que nojenta.
— Quer um pouco, né? Então lá vai, ranho pra você.— Alma finalmente riu.
— Eca! Tira pra lá essa mão. Vamos brincar de outra coisa?
— Pega-pega americano. Esse é o melhor.
— Cala a boca, você nem sabe jogar isso aí.
— É mesmo. Acho que inventou isso, e fica falando aí que é americano.
— Ó como sei falar americano: u ó tem som de u.
— Tenho que ir, minha mãe tá lá na frente. — inventou Alma, que somente brincava de telefone sem fio. Depois partia com suas mentiras e desculpas frágeis. [...]"
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quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Quem sou eu
"Telefone Sem fio" - Alma quer falar também!
"(....)meu nome é Alma Ferreira Borges, tenho alguns anos (o suficiente), sou casada e desinteressada. Não, não tenho filhos, mas uma porção de sonhos sem modos. Tenho também uma maneira bagunçada de me entender com a vida.
Não desapareça você, um dia ainda gostará de mim e dos meus sonhos bagunçados. De vez em quando ando nas pontas dos pés, eu sei. Mas, no fundo, ainda piso firme no concreto frio. Apenas não quero olhar para cima. Respirar fundo o cheiro de ausência desta tarde. Porém, fique você aí, não irá se arrepender, garanto (....)"
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"(....)meu nome é Alma Ferreira Borges, tenho alguns anos (o suficiente), sou casada e desinteressada. Não, não tenho filhos, mas uma porção de sonhos sem modos. Tenho também uma maneira bagunçada de me entender com a vida.
Não desapareça você, um dia ainda gostará de mim e dos meus sonhos bagunçados. De vez em quando ando nas pontas dos pés, eu sei. Mas, no fundo, ainda piso firme no concreto frio. Apenas não quero olhar para cima. Respirar fundo o cheiro de ausência desta tarde. Porém, fique você aí, não irá se arrepender, garanto (....)"
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quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Só mais uma coisa...
E da Paraolimpíada, ninguém fala? Até ontem, o Brasil estava em QUINTO lugar, com OITO medalhas de ouro, QUATRO de prata e CINCO de bronze (hoje ganhou mais algumas medalhinhas).... E não é assunto de esquina ... E não ocupa páginas e páginas do jornal ... E não está na homepage da UOL...E não aparece na Globo nenhum atleta a chorar afônico sobre o microfone de algum repórter de sorriso bege, quando vê a família do outro lado mundo suspirar o que todos queremos ouvir: "nós te amamos", "estamos morrendo de saudade", "estamos torcendo por você", etc, etc, etc. (quase não vejo o Jornal da Globo, mas, reportagens assim são temas recorrentes nas conversas dos meus familiares e conhecidos)
Das duas, uma: ou há uma forte tendência em se valorizar a derrota do nosso sonho intenso, nosso raio vívido; ou, o que mais temo, arrepio até a última fisgada do dedão do pé, ainda vemos o mundo sob um ponto de vista sombrio e perigoso, a dividi-lo entre os iguais e os diferentes e, por isso, a fazer da Paraolimpíada café com leite!
Das duas, uma: ou há uma forte tendência em se valorizar a derrota do nosso sonho intenso, nosso raio vívido; ou, o que mais temo, arrepio até a última fisgada do dedão do pé, ainda vemos o mundo sob um ponto de vista sombrio e perigoso, a dividi-lo entre os iguais e os diferentes e, por isso, a fazer da Paraolimpíada café com leite!
sábado, 6 de setembro de 2008
Fausto Wolff (17 outubro 1940 - 5 setembro 2008)
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Autobiografia (autoretrato?)
Outra raspadinha: [já no prefácio direcionado ao leitor]
"Este é o único retrato de homem, pintado exatamente segundo o natural e em toda a sua verdade, que existe e que provavelmente existirá jamais. Quem quer que sejais, vós a quem o meu destino ou a minha confiança fizeram árbitro deste caderno, pelos meus infortúnios, pelas vossas entranhas, e em nome de toda a espécie humana,[...]" J.J. Rousseau Confissões
"Do autor ao leitor [...] Prefiro, porém, que me vejam na minha simplicidade natural, sem artifício de nenhuma espécie, porquanto é a mim mesmo que pinto. Vivos se exibirão meus defeitos e todos me verão na minha ingenuidade física e moral, pelo menos enquanto o permitir a conveniência. Se tivesse nascido entre essa gente de quem se diz viver ainda na doce liberdade das primitivas leis da natureza, asseguro-te que de bom grado me pintaria por inteiro e nu. [...] E que agora Deus o proteja. De Montaigne, em primeiro de março de 1580." Montaigne Ensaios
Já postei o aviso ao leitor de Montaigne, mas precisava completá-lo com esta raspadinha (aliás, são duas traduções diferentes, prefiro a da pesquisadora Leila Aguiar, que estudou a autobiografia com seus alunos - entre eles, EU. Analisamos o simulacro do EU em uma autobiografia - chamada por ela de Autoretrato. Pesquisa extremamente atual!)
"Este é o único retrato de homem, pintado exatamente segundo o natural e em toda a sua verdade, que existe e que provavelmente existirá jamais. Quem quer que sejais, vós a quem o meu destino ou a minha confiança fizeram árbitro deste caderno, pelos meus infortúnios, pelas vossas entranhas, e em nome de toda a espécie humana,[...]" J.J. Rousseau Confissões
"Do autor ao leitor [...] Prefiro, porém, que me vejam na minha simplicidade natural, sem artifício de nenhuma espécie, porquanto é a mim mesmo que pinto. Vivos se exibirão meus defeitos e todos me verão na minha ingenuidade física e moral, pelo menos enquanto o permitir a conveniência. Se tivesse nascido entre essa gente de quem se diz viver ainda na doce liberdade das primitivas leis da natureza, asseguro-te que de bom grado me pintaria por inteiro e nu. [...] E que agora Deus o proteja. De Montaigne, em primeiro de março de 1580." Montaigne Ensaios
Já postei o aviso ao leitor de Montaigne, mas precisava completá-lo com esta raspadinha (aliás, são duas traduções diferentes, prefiro a da pesquisadora Leila Aguiar, que estudou a autobiografia com seus alunos - entre eles, EU. Analisamos o simulacro do EU em uma autobiografia - chamada por ela de Autoretrato. Pesquisa extremamente atual!)
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Das bibliotecas e dos seus freqüentadores
Meus dias são mais vividos dentro de uma biblioteca. Passo horas redondas e quebradas dentro dela. A do Centro Cultural é minha preferida, nos aceita como somos. Com nossas garrafinhas de água, nossos outros livros (não é ciumenta, aceita livros de outras bibliotecas), nossas roupas rasgadas,etc ,etc. Antes de iniciar o mestrado já vivia em bibliotecas, aliás, por elas que conheci autores como Proust, entre outros.
Nesses anos intensos de biblioteca, descobri quem são seus freqüentadores. O mais engraçado é que deste grupo não fazem parte aqueles "intelectuais" e "escritores" que se dizem leitores compulsivos para seus entrevistadores babões.
Não, o grupo é formado por estudantes pré-vestibular e pré-concurso e sobretudo por mendigos. Exatamente, por mendigos, uma grande parte já enlouquecida pela miséria e pelo excesso. Estes sim, leitores compulsivos. Eles falam sozinhos, afastam os demais por sua condição marginal, e lêem muito. Muitos livros, jornais, muitos dos seus escritos (porque também escrevem muito), por fim lêem tudo que a vida lhes negou, conhecimento, sonhos, etc, etc, etc. Eles não participam de bienais ou das festas de Parati, mas destes sim sou grande fã!
Nesses anos intensos de biblioteca, descobri quem são seus freqüentadores. O mais engraçado é que deste grupo não fazem parte aqueles "intelectuais" e "escritores" que se dizem leitores compulsivos para seus entrevistadores babões.
Não, o grupo é formado por estudantes pré-vestibular e pré-concurso e sobretudo por mendigos. Exatamente, por mendigos, uma grande parte já enlouquecida pela miséria e pelo excesso. Estes sim, leitores compulsivos. Eles falam sozinhos, afastam os demais por sua condição marginal, e lêem muito. Muitos livros, jornais, muitos dos seus escritos (porque também escrevem muito), por fim lêem tudo que a vida lhes negou, conhecimento, sonhos, etc, etc, etc. Eles não participam de bienais ou das festas de Parati, mas destes sim sou grande fã!
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Minha tese sobre Clarice Lispector
O tí estin de Clarice Lispector
Na tentativa de responder à pergunta “o que é isto — filosofia?”, Heidegger discorreu sobre o próprio questionamento, uma vez que, para ele, não somente a filosofia é grega em sua origem, mas também o modo como se pergunta, mesmo que à sua maneira de questionar, ainda é grego. A pergunta: “que é isto ...?” em grego, “tí estin”, mantém a questão, ao que algo seja, multívoca.
De acordo com o filósofo, a resposta à indagação “que é aquilo lá longe?”, “uma árvore”, consiste na nomeação de uma coisa que não se conhece direito, logo, o tí estin implica, na realidade, a questão: “o que é aquilo que designamos ‘árvore’?”
As indagações na escritura de Clarice Lispector em muito se assemelham ao tí estin. Tomemos como exemplo a crônica escrita para o Jornal do Brasil, cujo próprio título O que é que é? vem a concretizar a pergunta, enquanto questão da essência, que se mantém sempre viva por intermédio da essência que se interroga.
Na crônica, a autora perscruta os sentimentos erigidos a partir de situações que vive, com a interrogação “como se chama o que sinto?”, até concluir que “o único modo de chamar é perguntar: como se chama?” (A DESCOBERTA DO MUNDO, 1999, p.199)
Em outras palavras, a autora não pergunta primeiramente “o que é aquilo lá longe” e sim, aproxima-se de pronto da pergunta “o que é aquilo que designamos...?”, e, por conseguinte, do tí estin. Há o interesse pela coisa que não se conhece direito, pelo “que”, e não pela nomeação.
Como se sabe, Clarice Lispector também foi jornalista, e, durante as décadas de 1960 e 1970 trabalhou como entrevistadora para as revistas Manchete (maio 1968-outubro1969) e Fatos e Fotos / Gente(dezembro1976- outubro1977), produzindo um total de 83 entrevistas (59 entrevistas para a Manchete e 24 para a Fatos e Fotos/Gente).
Interessante observar que, apesar de ter como entrevistados, artistas, políticos, e personalidades da época, como Chico Buarque, Tarcísio Meira e, até mesmo, o Padre Quevedo, Clarice manteve o caráter metafísico em suas perguntas.
No estilo “pingue-pongue”, a entrevista se aproxima de seu entrevistado com indagações como “O que é o amor?”, “Qual a coisa mais importante do mundo?”, “Qual a coisa mais importante do mundo para você como indivíduo?”, as quais o induz a “olhar para dentro”, a aprofundar-se no próprio ser, exigindo um maior contato consigo mesmo.
Desta forma, por meio da fantasia de carnaval, por exemplo, Clarice Lispector extrai de seu entrevistado, Clóvis Bornay, considerações a respeito da personalidade humana, subentendidas na explanação sobre a necessidade daquele que interpreta modelos carnavalescos em ser “bom ator”, capaz de possuir “a inteligência de um gênio, a força de Hércules, a bondade de Cristo, as alegrias de uma criança, a ternura de uma mulher e as artimanhas de um demônio”. (LISPECTOR, C. Diálogos Possíveis com Clarice Lispector. Revista Manchete, Rio de Janeiro, ano16, n. 879, p.48-49, 22 fev. 1969).
Ou ainda, ao entrevistar “o primeiro figurino do país”, Tereza Souza Campos, pelo simples fato de “não simpatizar com ela”, Clarice revela em sua entrevistada uma mulher, que, muito além de ser a mais elegante, também é “inteligente”, que, com os “olhos virados para dentro”, reflete sobre o que é, capaz de despertar a simpatia de alguém que, mesmo sem lhe ter empatia, em um primeiro momento, chama-a de “une femme d’esprit” (LISPECTOR, C. Diálogos Possíveis com Clarice Lispector. Revista Manchete, Rio de Janeiro, ano16, n. 869, p.40-41, 14 dez. 1968).
Para Clarice entrevistadora, as entrevistas correspondem uma forma de compreensão da Vida, uma vez que é clara sua preocupação com o entrevistado não enquanto celebridade, porém, enquanto ser humano, misterioso para consigo mesmo.
É possível que, também nas entrevistas, Clarice Lispector não estava atrás de respostas, mas da pergunta em essência, do ti estin, cuja chama se mantém viva porque se interroga.
Na tentativa de responder à pergunta “o que é isto — filosofia?”, Heidegger discorreu sobre o próprio questionamento, uma vez que, para ele, não somente a filosofia é grega em sua origem, mas também o modo como se pergunta, mesmo que à sua maneira de questionar, ainda é grego. A pergunta: “que é isto ...?” em grego, “tí estin”, mantém a questão, ao que algo seja, multívoca.
De acordo com o filósofo, a resposta à indagação “que é aquilo lá longe?”, “uma árvore”, consiste na nomeação de uma coisa que não se conhece direito, logo, o tí estin implica, na realidade, a questão: “o que é aquilo que designamos ‘árvore’?”
As indagações na escritura de Clarice Lispector em muito se assemelham ao tí estin. Tomemos como exemplo a crônica escrita para o Jornal do Brasil, cujo próprio título O que é que é? vem a concretizar a pergunta, enquanto questão da essência, que se mantém sempre viva por intermédio da essência que se interroga.
Na crônica, a autora perscruta os sentimentos erigidos a partir de situações que vive, com a interrogação “como se chama o que sinto?”, até concluir que “o único modo de chamar é perguntar: como se chama?” (A DESCOBERTA DO MUNDO, 1999, p.199)
Em outras palavras, a autora não pergunta primeiramente “o que é aquilo lá longe” e sim, aproxima-se de pronto da pergunta “o que é aquilo que designamos...?”, e, por conseguinte, do tí estin. Há o interesse pela coisa que não se conhece direito, pelo “que”, e não pela nomeação.
Como se sabe, Clarice Lispector também foi jornalista, e, durante as décadas de 1960 e 1970 trabalhou como entrevistadora para as revistas Manchete (maio 1968-outubro1969) e Fatos e Fotos / Gente(dezembro1976- outubro1977), produzindo um total de 83 entrevistas (59 entrevistas para a Manchete e 24 para a Fatos e Fotos/Gente).
Interessante observar que, apesar de ter como entrevistados, artistas, políticos, e personalidades da época, como Chico Buarque, Tarcísio Meira e, até mesmo, o Padre Quevedo, Clarice manteve o caráter metafísico em suas perguntas.
No estilo “pingue-pongue”, a entrevista se aproxima de seu entrevistado com indagações como “O que é o amor?”, “Qual a coisa mais importante do mundo?”, “Qual a coisa mais importante do mundo para você como indivíduo?”, as quais o induz a “olhar para dentro”, a aprofundar-se no próprio ser, exigindo um maior contato consigo mesmo.
Desta forma, por meio da fantasia de carnaval, por exemplo, Clarice Lispector extrai de seu entrevistado, Clóvis Bornay, considerações a respeito da personalidade humana, subentendidas na explanação sobre a necessidade daquele que interpreta modelos carnavalescos em ser “bom ator”, capaz de possuir “a inteligência de um gênio, a força de Hércules, a bondade de Cristo, as alegrias de uma criança, a ternura de uma mulher e as artimanhas de um demônio”. (LISPECTOR, C. Diálogos Possíveis com Clarice Lispector. Revista Manchete, Rio de Janeiro, ano16, n. 879, p.48-49, 22 fev. 1969).
Ou ainda, ao entrevistar “o primeiro figurino do país”, Tereza Souza Campos, pelo simples fato de “não simpatizar com ela”, Clarice revela em sua entrevistada uma mulher, que, muito além de ser a mais elegante, também é “inteligente”, que, com os “olhos virados para dentro”, reflete sobre o que é, capaz de despertar a simpatia de alguém que, mesmo sem lhe ter empatia, em um primeiro momento, chama-a de “une femme d’esprit” (LISPECTOR, C. Diálogos Possíveis com Clarice Lispector. Revista Manchete, Rio de Janeiro, ano16, n. 869, p.40-41, 14 dez. 1968).
Para Clarice entrevistadora, as entrevistas correspondem uma forma de compreensão da Vida, uma vez que é clara sua preocupação com o entrevistado não enquanto celebridade, porém, enquanto ser humano, misterioso para consigo mesmo.
É possível que, também nas entrevistas, Clarice Lispector não estava atrás de respostas, mas da pergunta em essência, do ti estin, cuja chama se mantém viva porque se interroga.
José Luís Peixoto
quantas vezes apostaste a tua vida?
apostei a minha mil vezes
perdeste tudo?
sim, perdi sempre tudo.
apostei a minha mil vezes
perdeste tudo?
sim, perdi sempre tudo.
terça-feira, 19 de agosto de 2008
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Minha Clara é turva
Engraçado, estava eu viajando pela Internet, quando me deparei com outra personagem chamada Clara, aspirante a escritora. Se bem que a minha já nasceu assim, defeito de fabricação, diria Alfredo. A outra Clara é do livro Pó de Parede, cujo título, coincidência extrema, também foi um dos 12 finalistas daquele Prêmio da Jovem Literatura ... alma gêmea? Às vezes penso sobre a criação artística, se se nasce sozinha, ou se alguém em algum canto também tem a mesma idéia, e me vem a pergunta, inclusive, incitadora deste site: somos originais? Aliás, não disse, o vencedor do Prêmio é escritor do site Paralelos, site pelo qual conheci os escritores do 2 º juri do Concurso.
Voltando à Clara, quando escolhi o nome, pensei na Clara de Lygia Fagundes Telles, apelidada carinhosamente de Turva. Não poderia ser outro nome!
Por via das dúvidas, a próxima personagem irá se chamar Eufrosina.
Voltando à Clara, quando escolhi o nome, pensei na Clara de Lygia Fagundes Telles, apelidada carinhosamente de Turva. Não poderia ser outro nome!
Por via das dúvidas, a próxima personagem irá se chamar Eufrosina.
Malabarismos do cotidiano parte V
RICO - Aquele que mendigava um sorriso percebeu a inviabilidade de sua esmola. Agora se contenta com outro pedido: "hei, moço, me dá um 'ai'?"
terça-feira, 29 de julho de 2008
Olhar estrangeiro
Da esquerda para direita: Joana, meu marido (a razão de meus dias mais leves), EU
Minha amiga portuguesa Joana já se demorava mais nas vogais, sua voz já quase macia porém mantinha o afiado olhar estrangeiro. Algumas de suas observações: E as latas de lixo? Os brasileiros são cá muito atenciosos. Pronto. Pois. Sinto-me mal. Cá estou eu a comprar uma Melissa de cem reais / euros e este miúdo a pedir dinheiro para comer (um dos paradoxos da Oscar Freire!). Não estão a perceber nada do que digo. O que estão a pichar nos prédios? Como conseguem pichar naquela altura? Oferta? O que estão cá a oferecer?
quinta-feira, 17 de julho de 2008
Axioma (a la Balzac)
Somos todos iguais....não será lá muito interessante ver o mundo sob o ponto de vista de uma privada.
quinta-feira, 3 de julho de 2008
Anotações elucidativas para melhor entendimento da dita "alegria intransitiva"
Estava me sentindo bem naquela manhã. Uma espécie de alegria sincrônica, um rombo no peito simultâneo ao que me dessem como garantia de vida naquela manhã. Certa música que ouvisse antes de ligar o rádio, de fato. Uma frase dita, antes que alguém pensasse em abrir a boca. Uma ligação importante concomitante (odeio esta palavra!) ao meu desejo de ser importante. “Não pode ser, tudo tão perfeito!”, pensei. *
* fragmento de um conto inacabado meu (um dia...)
* fragmento de um conto inacabado meu (um dia...)
quarta-feira, 14 de maio de 2008
Malabarismos do cotidiano Parte IV
ESQUINAS - Ele ultrapassava a magreza. Na realidade, expunha seus ossos saltados sob uma fina pele. Um quase nada a errar alguma direção na Av. Paulista. Passou por mim, mas não me viu. Enxergava tão e somente o reflexo de seu peso de fome. A miséria é narcisista, acredito, inflinge sua imagem, qual um espelho ao miserável. Sem camisa - também doía um quê de culpa nos outros - ele cantava alto e forte seu canto já cantado. Ressoava a frase já antiga, e, ao mesmo tempo, nova aos meus ouvidos: só /eu/ sei/ as / esquinas por / que pas /sei.
Malabarismos do Cotidiano Parte III
RAYUELA - Dia desses, rodando à noite pelo centro velho da cidade de São Paulo (o que adoro) entrevi, em meio a carros policiais, garotos e garotas de programa, desastres aéreos e urbanos, uma menina solitária jogando Amarelinha na calçada do Pateo do Collegio. Não é Cortazar demais?
Malabarismos do cotidiano Parte II
SEM TROCADO - Hoje, me deparei com um mendigo que abordava as pessoas na rua com um pedido inusitado: "hei, moço, me dá um sorriso?".
[Para dar continuidade à série, retomo alguns posts antigos]
[Para dar continuidade à série, retomo alguns posts antigos]
terça-feira, 13 de maio de 2008
Hoje acordei querendo ler Andrea de Barros
Querida, um poema seu para nossos sonhos matinais (como este é um palimpsesto não haveria outro mais apropriado!):
Hilda… so Hilst
Azul
De tua mágoa tinto,
Jaz
um amor roubado.
Só
Em molhados peitos,
Meu coração mofado.
Moscas
De vôos verdes,
Cercam, cerceiam restos.
Mortos
Nas peles cruas,
Nuas
De ti desertas
Andrea de Barros
2004
Hilda… so Hilst
Azul
De tua mágoa tinto,
Jaz
um amor roubado.
Só
Em molhados peitos,
Meu coração mofado.
Moscas
De vôos verdes,
Cercam, cerceiam restos.
Mortos
Nas peles cruas,
Nuas
De ti desertas
Andrea de Barros
2004
Malabarismos do cotidiano
Estava eu, ligeira, pela alegria intransitiva, dessas que garantem alguma ilusão, a me largar no caminhar desnorteado de dois pés doídos. Até que, no metrô, percebi quão velozmente se esgarça tal sentimento de meu sorriso besta, ante tantos corpos pendurados e cansados sob o solo.
O sorriso deu lugar a um calor desajeitado, que passou a queimar mais desajeitadamente com a urdidura de palavras furiosas direcionadas ao meu corpo bambo. Tratava-se de um pai sem filho que queria meu pedido de perdão. Sim, perdão, pelo esbarrão em seu braço inviolável.
Pediria perdão. Mas não era o caso. Decidi me calar. Ele me olhou recriminador, em quase desespero por um pedido de desculpa. Seria impossível. Iria descer (ou subir, termo mais dantescamente adequado), naquela estação.
Pretendia ao menos dizer a ele o que sentia. Às vezes, não sobra tempo para dizermos o que sentimos, e terminamos por nos afastar estranhos, a nos incomodar com o suor que cinge a pele e amarela nosso andar.
Recuperei meus pedaços e continuei meu caminhar desnorteado. Ele, este findou seu dia sem sequer um pedido de perdão.
O sorriso deu lugar a um calor desajeitado, que passou a queimar mais desajeitadamente com a urdidura de palavras furiosas direcionadas ao meu corpo bambo. Tratava-se de um pai sem filho que queria meu pedido de perdão. Sim, perdão, pelo esbarrão em seu braço inviolável.
Pediria perdão. Mas não era o caso. Decidi me calar. Ele me olhou recriminador, em quase desespero por um pedido de desculpa. Seria impossível. Iria descer (ou subir, termo mais dantescamente adequado), naquela estação.
Pretendia ao menos dizer a ele o que sentia. Às vezes, não sobra tempo para dizermos o que sentimos, e terminamos por nos afastar estranhos, a nos incomodar com o suor que cinge a pele e amarela nosso andar.
Recuperei meus pedaços e continuei meu caminhar desnorteado. Ele, este findou seu dia sem sequer um pedido de perdão.
terça-feira, 6 de maio de 2008
Quem conta um conto..
Mais um conto nas Narrativas do Espólio.
Eis um trecho
"Ninguém me ajudou. Não queria ajuda. Apenas um olhar mais compreensível sobre minha necessidade de molhar a garganta com uma dose caprichada de loucura."
Eis um trecho
"Ninguém me ajudou. Não queria ajuda. Apenas um olhar mais compreensível sobre minha necessidade de molhar a garganta com uma dose caprichada de loucura."
domingo, 27 de abril de 2008
sábado, 19 de abril de 2008
Voltei!
Após ter me retirado do mundo blogal, como um dos finalistas do Prêmio da Jovem Literatura identidade Bourne, agora voltei. Sim, ontem saiu o resultado. Não...
Bom estar de volta, aqui sinto-me menos EU
Bom estar de volta, aqui sinto-me menos EU
segunda-feira, 17 de março de 2008
Os Jornalistas
Outra raspadinha: Bel Ami de Guy de Maupassant nos remete imediatamente ao Ilusões Perdidas de Balzac. Coincidência ou não - Maupassant em um determinado momento cita Balzac - vale ler os dois. Visões ácidas sobre o jornalismo do século XIX, que se mantêm coerentes ainda hoje. Quer saber como?
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
O ovo ou a galinha?
Prefeitura alega falta de demanda e decide fechar quatro bibliotecas em SP
CINTHIA RODRIGUES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O prefeito Gilberto Kassab (DEM) determinou o fechamento de quatro bibliotecas em São Paulo. Segundo a Secretaria Municipal de Cultura não havia demanda para as unidades, mas dados da própria prefeitura mostram que houve uma média de 50 acessos por dia, em cada uma delas, nos primeiros nove meses de 2007.Uma unidade, no Alto da Lapa, está fechada há um mês. As outras, duas na Vila Mariana e uma no Tatuapé, irão interromper os empréstimos até o fim do mês. Juntas, tinham acervo de 165 mil livros e somaram 58.842 acessos de janeiro a setembro de 2007.Os prédios das bibliotecas Cecília Meireles, Alto da Lapa, e Zalina Rolim, na Vila Mariana, passarão para as subprefeituras locais e serão transformados em centros de convivência.A biblioteca Arnaldo de Magalhães Giácomo, no Tatuapé, só poderá ser usada pela EMEI Mary Buarque. A Chácara do Castelo, também na Vila Mariana, é a única que ampliará o acervo, mas fechará para o público - vai virar um Centro de Conservação de Acervo."É de cortar o coração", diz a dona-de-casa Mirna Zanella De Bortoli, 56, que mora em frente à unidade do Alto da Lapa. Ela admite que já não havia visitantes "como antes", mas conta que o lugar nunca estava vazio.Com a medida, a Secretaria Municipal de Cultura passa a ter 51 bibliotecas. Outras, como as 26 unidades dos CEUs, não entram na conta por serem subordinadas à Secretaria de Educação.A presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia, Regina Céli de Souza, diz que a Unesco preconiza uma biblioteca a cada 3,5 km de área urbana e São Paulo deveria ter 120. "Em vez de modernizar e chamar o público, eles fecham."
CINTHIA RODRIGUES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O prefeito Gilberto Kassab (DEM) determinou o fechamento de quatro bibliotecas em São Paulo. Segundo a Secretaria Municipal de Cultura não havia demanda para as unidades, mas dados da própria prefeitura mostram que houve uma média de 50 acessos por dia, em cada uma delas, nos primeiros nove meses de 2007.Uma unidade, no Alto da Lapa, está fechada há um mês. As outras, duas na Vila Mariana e uma no Tatuapé, irão interromper os empréstimos até o fim do mês. Juntas, tinham acervo de 165 mil livros e somaram 58.842 acessos de janeiro a setembro de 2007.Os prédios das bibliotecas Cecília Meireles, Alto da Lapa, e Zalina Rolim, na Vila Mariana, passarão para as subprefeituras locais e serão transformados em centros de convivência.A biblioteca Arnaldo de Magalhães Giácomo, no Tatuapé, só poderá ser usada pela EMEI Mary Buarque. A Chácara do Castelo, também na Vila Mariana, é a única que ampliará o acervo, mas fechará para o público - vai virar um Centro de Conservação de Acervo."É de cortar o coração", diz a dona-de-casa Mirna Zanella De Bortoli, 56, que mora em frente à unidade do Alto da Lapa. Ela admite que já não havia visitantes "como antes", mas conta que o lugar nunca estava vazio.Com a medida, a Secretaria Municipal de Cultura passa a ter 51 bibliotecas. Outras, como as 26 unidades dos CEUs, não entram na conta por serem subordinadas à Secretaria de Educação.A presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia, Regina Céli de Souza, diz que a Unesco preconiza uma biblioteca a cada 3,5 km de área urbana e São Paulo deveria ter 120. "Em vez de modernizar e chamar o público, eles fecham."
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Melhor do que o pôr-do-sol na praia ou posso esquecer o biquíni, mas o livro não!
Estava eu, feliz e bronzeada na praia, quando constatei que havia levado apenas um livro na bagagem, (tudo bem que era a Divina Comédia, mas). Isso porque me preparei para ficar um final de semana, mas, como férias são férias, arrastei minhas horas na areia, e um final de semana transformou-se em 15 dias. Procurei atrasar a leitura, entretanto não consegui, terminei o livro ainda no décimo dia. Com as mãos vazias, e certa de que passaria os próximos dias sem nada para ler (exceto aquelas revistas horríveis de moda e beleza que sempre alguém deixa na casa de praia) descobri uma espécie de biblioteca em plena sorveteria. Trata-se da sorveteria Rocha de Boiçucanga, cujos atendentes disponibilizaram seus livros para os clientes do estabelecimento. Encontramos lá Balzac, Moravia, Maupassant, Borges, etc. Segundo um dos atendentes, o dono dos livros, na tentativa de salvá-los da maresia, do mofo e do esquecimento, passou a disponibilizá-los aos freqüentadores da sorveteria. Os livros podem ser emprestados por um tempo indeterminado, e, mesmo assim, a maioria deles (que atinge um grande número diário) é devolvida inteira e intacta. Parabéns ao pessoal da sorveteria Rocha de Boiçuca pelo incentivo à leitura!
Meme
Lúcia B. passou a bola, e cá estou, buscando com esforço em meu repertório lembranças adormecidas e remotas.
1. O que você estava fazendo em 1978 (há 30 anos)?
Fazia o que faz um bebê de um ano e nove meses. Nada de especial, algo que envolva mamadeiras, fraldas, e chupetas. Exceto pelo fato de já ouvir e chacoalhar o corpo ao som da música Frevo (Pecadinho) do disco Tom Zé (que ainda hoje tenho e ouço). Ouvi a música pela primeira vez no ano anterior, quando ainda dançava no berço.
2. E em 1983, há 25?
Um ano após a vitória da Itália sobre o Brasil na Copa do Mundo graças ao Paolo Rossi, motivo pelo qual ainda ocultava meu sobrenome Rossi, descobri que definitivamente não gostava de esportes! Divertia-me com os filmes do Charlie Chaplin e do Woody Allen e seguia todos os finais de semana uma rotina deliciosa com meus pais: primeiro assistíamos a peças de teatro (Tatiana Belinsky já me segurou no colo!), depois íamos ao Jack In the Box (quem se lembra?) e por fim nos calibrávamos na livraria Siciliano da Brigadeiro Luís Antônio. Ah, também assistia ao programa do Bozo!
3. O que você estava fazendo em 1988?
Nessa época ouvia Dead Kennedys, Legião Urbana e Beatles, este último sob a influência do filme Curtindo a Vida Adoidado de 1986. Lia Luís Fernando Veríssimo e Fernando Sabino.
4. E em 1993?
Um ano inútil! O que é que foi aquele referendo!? Ao menos, nesse ano, conheci Loyola, mais especificamente Bebel que a Cidade Comeu, e Dalton Trevisan, fiquei fascinada com o título "Virgem Louca, Loucos Beijos". E por falar em títulos, me encantei com o "Ainda vou cuspir no seu túmulo" de Boris Vian, que viria a ler alguns anos depois.
5. O que estava fazendo há 10 anos?
Como já disse, não sou fã de esporte, por isso o papelão dos brasileiros na França não me impressionou. No final de 1998, conheci Espanha e me encantei por Barcelona . Ouvi Zebda pela primeira vez nesse ano. Esse foi o ano de Thomas Mann entrar e se instalar na minha vida.
6. E há cinco?
Em 2003, conheci tardiamente Proust e Joyce. Tive febres, quase perdi o emprego (lia escondido no banheiro!). Também não vi televisão nesse ano (nada, nem noticiário) e percebi como me foi produtiva essa abstinência, lia e escrevia muito mais (quase joguei a televisão pela janela, hoje agradeço à minha centelha de sanidade por não tê-lo feito).
1. O que você estava fazendo em 1978 (há 30 anos)?
Fazia o que faz um bebê de um ano e nove meses. Nada de especial, algo que envolva mamadeiras, fraldas, e chupetas. Exceto pelo fato de já ouvir e chacoalhar o corpo ao som da música Frevo (Pecadinho) do disco Tom Zé (que ainda hoje tenho e ouço). Ouvi a música pela primeira vez no ano anterior, quando ainda dançava no berço.
2. E em 1983, há 25?
Um ano após a vitória da Itália sobre o Brasil na Copa do Mundo graças ao Paolo Rossi, motivo pelo qual ainda ocultava meu sobrenome Rossi, descobri que definitivamente não gostava de esportes! Divertia-me com os filmes do Charlie Chaplin e do Woody Allen e seguia todos os finais de semana uma rotina deliciosa com meus pais: primeiro assistíamos a peças de teatro (Tatiana Belinsky já me segurou no colo!), depois íamos ao Jack In the Box (quem se lembra?) e por fim nos calibrávamos na livraria Siciliano da Brigadeiro Luís Antônio. Ah, também assistia ao programa do Bozo!
3. O que você estava fazendo em 1988?
Nessa época ouvia Dead Kennedys, Legião Urbana e Beatles, este último sob a influência do filme Curtindo a Vida Adoidado de 1986. Lia Luís Fernando Veríssimo e Fernando Sabino.
4. E em 1993?
Um ano inútil! O que é que foi aquele referendo!? Ao menos, nesse ano, conheci Loyola, mais especificamente Bebel que a Cidade Comeu, e Dalton Trevisan, fiquei fascinada com o título "Virgem Louca, Loucos Beijos". E por falar em títulos, me encantei com o "Ainda vou cuspir no seu túmulo" de Boris Vian, que viria a ler alguns anos depois.
5. O que estava fazendo há 10 anos?
Como já disse, não sou fã de esporte, por isso o papelão dos brasileiros na França não me impressionou. No final de 1998, conheci Espanha e me encantei por Barcelona . Ouvi Zebda pela primeira vez nesse ano. Esse foi o ano de Thomas Mann entrar e se instalar na minha vida.
6. E há cinco?
Em 2003, conheci tardiamente Proust e Joyce. Tive febres, quase perdi o emprego (lia escondido no banheiro!). Também não vi televisão nesse ano (nada, nem noticiário) e percebi como me foi produtiva essa abstinência, lia e escrevia muito mais (quase joguei a televisão pela janela, hoje agradeço à minha centelha de sanidade por não tê-lo feito).
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