[do gr. palímpsestos, 'raspado novamente', pelo lat. palimpsestu.]. S.m. 1. Antigo material de escrita, principalmente o pergaminho, usado, em razão de sua escassez ou alto preço, duas ou três vezes[duplo palimpsesto], mediante raspagem do texto anterior
"Querida, você tem um coração na garganta"
Minha avó
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
Esquinas
A partir daquele instante entendi Djavan.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
Manias Parte i²
Lúcia Bettencourt, Eça de Queiroz e Homero
Obs: Quem nunca leu Odisséia, provavelmente já o leu em vários outros autores.
A Perfeição
Eça de Queiroz
domingo, 25 de novembro de 2007
Para um retrato de Thomas Mann
Theodor W. Adorno - Tradução: Idalina Azevedo da Silva
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
Arte Poética
"[...] a estrutura da tragédia mais bela tem de ser complexa e não simples e ela deve consistir na imitação de fatos inspiradores de temor e pena - característica própria de tal imitação - [...]
Às vezes, os sentimentos de temor e pena procedem do espetáculo; às vezes do próprio arranjo das ações, como é preferível e próprio de melhor poeta. [...] como o poeta deve proporcionar pela imitação o prazer advindo da pena e do temor, é evidente que essas emoções devem ser criadas nos incidentes." Aristóteles
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
Tropa de elite
Por outro lado, expõe uma ferida abafada e nos provoca. Não passamos incólume pelo filme, e isso é muito bom.
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
domingo, 23 de setembro de 2007
"BALANÇO
ao ouvido da tarde? Uma pausa de palavras
na frase do instante? Uma interrupção de passos
a caminho da porta? Um sal de sentimento
no coraçã da amada? A vida esfarelada
numa dissipação de rumos? Ou um peso
de esquecimento na sombra da memória?
Mas quem passa não pensa no que fica.
se os passos o levam para onde espera
ficar; e se o seu destino é a passagem,
onde ficar é sair de onde não chegou a
habitar, é o tempo que o obriga a não olhar
para onde não há-de voltar, mesmo que aí
tenha deixado o que pensou consigo levar.
Náufrago sem ilha nem barco, ou
marinheiro preso ao porto, é ele o seu próprio
fim, como se a cada momento não soubesse
que não é dele o que leva, e só é dele o
que perde, como se o não quisesse guardar,
para que chegue mais depressa, ao cair da noite,
a esse cais onde ninguém o irá esperar.
E repete, então, o que não devia fazer, para tudo
fazer de novo, como se tivesse de o fazer"
Nuno Júdice
sábado, 15 de setembro de 2007
O GRITO
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
Revista Língua Portuguesa
Como Drummond explora o jogo de sentidos contido numa palavra
Áporo é o inseto cavador, é nome de orquídea e de todo problema difícil ou impossível de se resolver. Um significante tão cheio de significados é bom pretexto para um poema de grande riqueza, como é o Áporo de Drummond. Francisco Achcar vê nele, sob a capa da brincadeira, um ponto de cruzamento de três temas recorrentes da poesia drummondiana: a existência, a sociedade e a própria poesia. Décio Pignatari, em Contracomunicação (Perspectiva, 1971), sugere que a palavra IN-SE-TO do primeiro verso de Áporo, separada em sílabas, desencadeia no poema aliterações (repetições de fonemas) que ele chama de verticais, com dois trajetos principais: percurso-inseto e percurso-orquídea."
Este é um trecho de minha matéria para a Revista Língua Portuguesa, sobre Carlos Drummond de Andrade.
Errata: Lúcia Bettencourt, antes de ser Ph. D, é escritora!
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
Um minuto ou dois de silêncio...
Dantesca
No meio do caminho
não havia nada
nem pedra
nem buraco no chão
No meio do caminho
não encontrei
nem virgílio
que me guiasse
nem virgília
que me explorasse
No meio do caminho
por um triz
não encontrei
beatriz
que fora dançar
quadrilha
com josé
No meio do caminho
o fim já estava escrito
No meio do caminho
só me restava retornar
ao início da frase
parafrasear
em nova freqüência
modulada
o que para os outros
é estrada
e para mim
tropêço
Criação
E agora, Maria?
Onde está o poema inspiração?
Dá pra seguir este
padrão?
Pedrão, pedregulho, uma pedreira,
inteira,
no meu caminho.
Dá pra olhar com as pupilas fatigadas do outro?
Ou é melhor dar a volta
por cima ou por baixo
o negócio é se virar
Jacaré ou lobisomem
mas prefiro
escalar a pedreira
ou virar a pedra
re-criar o padrão
inventar o caminho
a contra-mão da palavra.
Lúcia Bettencourt
quinta-feira, 16 de agosto de 2007
Patricia Highsmith
Arte segundo um artista jovem
domingo, 12 de agosto de 2007
MANIAS PARTE i
sexta-feira, 3 de agosto de 2007
RAYUELA
quinta-feira, 2 de agosto de 2007
MANIAS PARTE - JÁ NEM SEI...
ESTRANGEIROS PARA NÓS MESMOS
terça-feira, 24 de julho de 2007
"Morte no Avião" trechos
Barbeio-me, visto-me, calço-me.
É meu último dia: um dia
cortado de nenhum pressentimento.
Tudo funciona como sempre.
Saio para a rua. Vou morrer
[...]
A morte dispôs poltronas para o conforto
da espera. Aqui se encontram
os que vão morrer e não sabem.
Jornais, café, chicletes, algodão para o ouvido,
pequenos serviços cercam de delicadeza
nossos corpos amarrados.
Vamos morrer, já não é apenas
meu fim particular e limitado,
somos vinte a ser destruídos,
morreremos vinte,
vinte nos espatifaremos, é agora.
Ou quase. Primeiro a morte particular,
restrita, silenciosa, do indivíduo.
Morro secretamente e sem dor,
para viver apenas como pedaço de vinte,
e me incorporo todos os pedaços
dos que igualmente vão perecendo calados.
Somos um em vinte, ramalhete
de sopros robustos prestes a desfazer-se.
E pairamos,
frigidamente pairamos sobre os negócios
e os amores da região.
Ruas de brinquedo se desmancham,
luzes se abafam; apenas
colchão de nuvens, morros se dissolvem,
apenas
um tubo de frio roça meus ouvidos,
um tubo que se obtura, e dentro
da caixa iluminada e tépida vivemos
em conforto e solidão e calma e nada.
[...]
Ó brancura,serenidade sob a violência
da morte sem aviso prévio,
cautelosa,
não obstante, irreprimível aproximação de um perigo
[atmosférico
golpe vibrado no ar, lâmina de vento
no pescoço, raio
choque estrondo fulguração
rolamos pulverizados
caio verticalmente e me transformo em notícia."
Carlos Drummond de Andrade
sexta-feira, 20 de julho de 2007
Mãos em punho
quinta-feira, 19 de julho de 2007
quinta-feira, 12 de julho de 2007
As cartas não mentem jamais
quarta-feira, 11 de julho de 2007
Autobiografia - mais antiga que ....
Eis aqui, leitor, um livro de boa-fé.
Adverte-o ele de início que só o escrevi para mim mesmo, e alguns íntimos, sem me preocupar com o interesse que poderia ter para ti, nem pensar na posteridade. Tão ambiciosos objetivos estão acima de minhas forças. Voltei-o em particular aos meus parentes e amigos e isso a fim de que, quando eu não for deste mundo (o que em breve acontecerá), possam nele encontrar alguns traços de meu caráter e de minhas idéias e assim conservem mais inteiro e vivo o conhecimento que de mim tiverem [...]
[...]E agora, que Deus o proteja. De Montaigne, em primeiro de março de 1580."
AULA - BARTHES
quarta-feira, 4 de julho de 2007
segunda-feira, 2 de julho de 2007
PELA FLAP!
PÓS FLAP!
Há que se considerar que dos professores engendrados pela academia, muitos correm o risco de queimar os livros a 451ºF em sala de aula ao apresentar clássicos, com o peso que a palavra "clássicos" carrega, por suas escolas demarcadadas por datas (romantismo, realismo, etc), para adolescentes que preferem o que a literatura oferece em sua essência: a transgressão.
sexta-feira, 29 de junho de 2007
quarta-feira, 27 de junho de 2007
TANIZAKI
A razão de minha loucura
FLAP!
quarta-feira, 20 de junho de 2007
Manias Parte II
Manias Parte I
Qual minha alegria ao empacotar minhas compras, é como se também embrulhasse pedacinhos de mim mesma, mantendo-os hermeticamente fechados até que se desamarre o nó. O barulho, ah, aquele barulinho oco que se faz quando as compras são embaladas. E minha voz, que se revela melada com a frase: "Você tem mais saquinho?"
domingo, 27 de maio de 2007
Essa é de Camus...
Obs: Lú, querida, corrija, por favor, meu pobre francês (tadinho!!!!)
Minha pátria, minha língua
Não choro por nada que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa que me têm feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noite em que, ainda criança, li pela primeira vez numa selecta o passo célebre de Vieira sobre o rei Salomão. "Fabricou Salomão um palácio..." E fui lendo, até ao fim, trémulo, confuso: depois rompi em lágrimas, felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquele movimento hierático da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em que os sons são cores ideais – tudo isso me toldou de instinto como uma grande emoção política. E, disse, chorei: hoje, relembrando, ainda choro. Não é – não – a saudade da infância de que não tenho saudades: é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfónica.Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.
Livro do Desassossego, por Bernardo Soares. Vol. I, Fernando Pessoa.
segunda-feira, 14 de maio de 2007
CURUPIRA
sexta-feira, 4 de maio de 2007
SEM TROCADO
NARCISO
quarta-feira, 2 de maio de 2007
UM POUCO DE POESIA SINFÔNICA
ENTRE OS DEDOS
Não sentia mais suas pernas, caiu sobre elas, aproximando-se ainda mais do bicho, a essa altura, quase morto. Algo nele remeteu-a a seu próprio ser. Precisava senti-la. Quase inconsciente encostou suas mãos na ratazana, que gritava e se debatia de medo.
Sentiu o calor de seu corpo áspero, até que pousou a mão direita no peito do bicho, sentiu seu coraçãozinho se debatendo.
Pegou com cuidado o animal nos braços e com um carinhoso zelo levou-o a um lugar quente.
Enquanto cavava um buraco grande no quintal da casa, viu o rato morrer. Enterrou o pobre animal e seu medo por entre lágrimas e alívio.
quinta-feira, 26 de abril de 2007
O Fim
Marcelino Freire, conto The End In: Angu de Sangue, p. 119*
*Repare no número da página. Alguma semelhança com 11/9, segundo constatou um leitor de Marcelino Freire? E o livro foi publicado pela primeira vez em 2000!!! Um visionário? Acho que Marcelino é meio bruxo, isso sim!
quarta-feira, 25 de abril de 2007
TRILHAS DEGLUTIDAS
The Volcano Lover
Susan Sontag
quinta-feira, 19 de abril de 2007
Quando os nossos corpos se separaram
vesti-me devagar, mas o corpo a ser ridículo. disse espero que encontres um homem
que te ame, e ambos baixámos o olhar por sabermos que esse homem não existe.
despedimo-nos. tu ficaste para sempre deitada na cama e nua, eu saí para sempre
na noite. olhámo-nos pela última vez e despedimo-nos sem sequer nos conhecermos.*
_josé luís peixoto
*O grupo português A Naifa musicou este poema. O link para o site de A Naifa está na minha lista de links, vale a pena dar uma conferida.
segunda-feira, 16 de abril de 2007
ELES QUEBRAM O MUNDO
Eles quebram o mundo Em pedacinhos Eles quebram o mundo A marteladas Para mim não faz diferença Não faz diferença alguma Ainda me sobra muito Ainda sobra muito Basta que eu ame Uma pena azul Uma trilha de areia Uma ave assustada Basta que eu ame Um ramo frágil de ervaUma gota de orvalho Um grilo do campo Eles podem quebrar o mundo Em pedacinhos Ainda me sobra muitoTerei sempre um pouco de ar Um filete de vida Uma nesga de luz no olhar E o vento nas urtigas E mesmo se, mesmo Se me prenderemAinda me sobra muitoAinda sobra muito Basta que eu ame Esta pedra corroída Estes ganchos de ferro Onde um pouco de sangue se demora Eu amo, eu amo A madeira gasta da minha cama O estrado e o colchão de palha A poeira do sol Amo o postigo que se abre Os homens que entraram Que avançam, que me levam A reencontrar a vida do mundo A reencontrar a cor Amo este par de altas traves Esta lâmina triangular Estes senhores vestidos de preto É minha festa e me orgulho Eu amo, eu amo Este cesto cheio de farelo Onde vou pousar a cabeça Oh, eu amo deveras Basta que eu ame Um raminho de erva azul Uma gota de orvalho Um amor de ave assustada Eles quebram o mundo
Com seus maciços martelos Ainda me sobra muito Ainda sobra muito, meu coração.
Boris Vian* Tradução: Ruy Proença
*Esta é outra faceta não tão conhecida (ao menos para mim, hahaha) do escritor Boris Vian (A Espuma dos Dias e Vou Cuspir no seu Túmulo). Ele também foi saxofonista e compositor. Muitas de suas músicas foram regravadas sob a linda voz da cantora brasileira Letícia Coura (do Teatro Oficina).
domingo, 15 de abril de 2007
SINAL DE VIDA
sexta-feira, 13 de abril de 2007
quinta-feira, 12 de abril de 2007
COM A MÃO CHEIA DE HORAS
o teu cabelo não é castanho.
[mais pesado que eu...
[o teu cabelo à venda nos mercados
OUTONO
!meu aniversário
@cheiro cinza das folhas
#ventinho gostoso de outono
terça-feira, 10 de abril de 2007
Dicionário fragmentado
Anoitece [De anoitecer + o pl. de tristeza] V.i. À noite, a noite tece, tece noite
Água-oxigenada S.f. Inf. Água oxigena o nada, quando submerso, meu corpo (copo) vazio.
Anotações elucidativas para um melhor entendimento do verbete SAUDADE
segunda-feira, 9 de abril de 2007
quarta-feira, 4 de abril de 2007
terça-feira, 3 de abril de 2007
Mais Penélope
"IDADE
Que lhe corta os dias
O mesmo
Que me conta os casos,
Dos quandos,
Que eu não mais ouvia,
Aos comos
Sem porquês dos atos.
É dele
Meu desenho à pele,
O mapa pelo qual escapo
Da velha juventude eterna.
Ao tempo
Meu melhor bom dia.
Sem medo do que o sol me tira
Me farto do que a luz me soma."
Andrea de Barros
domingo, 1 de abril de 2007
ENVIE MEU DICIONÁRIO
durmo logo acordo
nem memórias nem diários
comigo mesmo diálogo
daqui até ali
dali até logo"
Paulo Leminski
Pelo ralo
Estremeço ao imaginar que algum pedaço de meus dias chorados irá saciar a sede de um rato de esgoto. Um frio de asco acomete meus pensamentos pela imagem daquele suposto rato enorme com as patas rosas e a cara de mau, passando a língua rapidamente a grandes goles em minha lágrima. Sinto nojo daquela lágrima - o pouco que resta de minha humanidade, diga-se - já na garganta seca daquele rato grande e peludo.
O filete de humanidade que lubrifica minha vista agora se transforma em ojeriza presa à cauda fina daquele bicho. Tento, com o nó na garganta e o arrepio no estômago, forçar outra lágrima no vinco dos olhos. É inútil. Solidifico-me de concreto e aço, enquanto vejo o ralo engolir restos ensaboados de minha sujeira junto com aquela lágrima.
sexta-feira, 30 de março de 2007
Penélope 2007
Na maioria das vezes, me sinto uma Penélope munida de caneta bic. Com saudades de mim mesma, engano o tempo, enquanto borro minha mão esquerda de tinta azul. Ja escrevi algo sobre a Penélope que existe em mim:
"Anotações elucidativas para um melhor entendimento do nome Penélope
A quem possa interessar: meu nome é Penélope. Mas, eu desejo intimamente que, ao me conhecerem, me perguntem se choro de manhã e não qual é o meu nome. É muito difícil ser Penélope, quando, diante do outro, tenho apenas um nome como forma de apresentação.
Quero me apresentar a vocês com minhas lágrimas, meus sonhos, meus delírios, minhas risadas estranhas, e não apenas com meu nome. Menos com minha profissão, cor ou estado civil. Sou muito mais do que um formulário de banco. Posso rir, chorar, pensar, posso sentir por meus poros a Vida que se deságua em mim.
Tenho muito mais a oferecer do que simples fórmulas prontas de felicidade. Sei que não gostam de elucubrações quando urge uma ação em um mundo que se movimenta. No entanto, meu pensamento se movimenta. Não basta?
Eu nasci no dia primeiro de um abril qualquer. Assim, procuro me manter viva, sabendo que em cada dia primeiro de cada abril, doze pedaços de mim morrem aos poucos nos outros ou em mim mesma. Nasço de novo a cada primeiro de abril, viva, pulsante, intumescida de existência.
Posso me reinventar a cada dia primeiro de abril. Posso ser alguém mais do que uma mulher de vinte, trinta, quarenta, cinqüenta anos. Pelos dias que caminham sob meus pés, posso ser também todas as mulheres de todas as idades.
Sou criança, adolescente, mulher, jovem, velha. Gorda, magra, feia, bonita. Sou uma mentirosa, por excelência, assim determinou meu aniversário. Talvez, por isso seja intumescida de existência. Avultada com meus capitosos anos.
Quem sabe, um dia, paro de sonhar. Porém, enquanto o mar não seca, vivo. É este o pacto. Viver até que o mar se seque. Até lá, continuo sonhando. Meu médico me recomendou que sonhasse para que não morresse de infarto: uma dose cavalar de sonho por dia, sonhe sem moderação!
Enquanto sonho, esqueço quem sou. Como Prometeu, acorrentaram-me a esta vida que disseram ser minha, ao passo que o dia-a-dia devora meu fígado. Contudo, eles não sabem que, como Prometeu, posso recriar outro fígado, enquanto sonho.
Com a veracidade de uma mentirosa que não sabe o que é, eu sonho. Ao menos, sonho. Ao mais, sonho. Sonho para não ser. Sonho para ser. Sonho para ser o não ser. Sou, simplesmente sou. Até que sonho. Sou, complexamente, sou. E, mais. Posso criar outros fígados. Enquanto sonho."
É isto.